quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Editorial: Ceará pode enfrentar colapso hídrico ainda este ano


Com o título acima, acompanhe o editoral do site Repórter Ceará publicado ontem, 22:

Mesmo com a redução do consumo de água e o aporte gerado pela quadra chuvosa, os açudes do Ceará ainda se encontram em situação crítica. Mais da metade dos municípios já decretou estado de emergência por conta da estiagem. O Castanhão, maior reservatório do país, responsável pelo abastecimento de Fortaleza e Região Metropolitana, apresenta hoje o menor volume da sua história. As previsões mais realistas consideram a possibilidade de um colapso hídrico ocorrer até janeiro de 2018, mas há a esperança de que o Projeto de Transposição do Rio São Francisco seja finalizado antes que o quadro se agrave ainda mais.

As chuvas que caíram entre os meses de Fevereiro e Maio deste ano ficaram abaixo da média histórica e pouco contribuíram para a elevação do volume dos açudes cearenses, fazendo com que o número de municípios em situação de emergência – decorrente da seca que se arrasta por mais de seis anos, chegasse a 115. Na última semana, os reservatórios do estado atingiram 11,1% de sua capacidade, nível inferior ao registrado no mesmo período do de 2016, quando o volume era de 12%.

Após quase um ano paralisada, as obras do Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco foram retomadas em Julho passado. Além disso, o Ministério da Integração e o governo de São Paulo anunciaram, na última segunda-feira, um acordo de cessão de equipamentos da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo),que irão acelerar a chegada das águas do Rio São Francisco ao Ceará. Porém, a previsão mais otimista do Governo Federal é que o Eixo Norte só será entregue no primeiro trimestre do próximo ano.

O secretário de Recursos Hídricos do Estado, Francisco Teixeira, considera que além de favorecer a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), a Transposição do Rio São Francisco beneficiará o Sertão Central ao “aliviar o açude Banabuiú” que se tornará – após a construção de um sistema adutor que deve interligar este reservatório aos açudes Pedras Brancas e Fogareiro, o “grande pulmão” do Sertão. A consideração do secretário traz ânimo para os agricultores e agropecuaristas da região, que há anos enfrentam dificuldades decorrentes da escassez de água.

O governador Camilo Santana afirma que não faltarão recursos a serem aplicados em Segurança Hídrica no Estado e que Fortaleza não enfrentará um racionamento de água. Nos últimos dois anos, foram investidos mais de 1 bilhão de reais em obras de combate a seca, grande parte desse montante foi empregado no “Cinturão das Águas”, que levará as águas da transposição do Rio São Francisco às torneiras dos cearenses.

Porém, estudo recente da Comissão Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), aponta que o açude Castanhão, que tem hoje somente 4,6 pode ter sua capacidade esgotada antes mesmo da quadra chuvosa de 2018. Mas, mesmo diante dessa delicada situação, o desperdício no estado ainda é enorme. Dados da Companhia de Esgoto e Água do Ceará (Cagece) apontam que um em cada cinco litros de água foi desperdiçado no primeiro semestre deste ano por conta de vazamentos, ligações clandestinas e hidrantes defeituosos.

A situação é preocupante. Muitas cidades do Ceará já estão racionando água desde o mês de Julho. Se o volume do Castanhão continuar a cair na mesma velocidade, mais de quatro milhões de cearenses, que residem na RMF, terão que racionar água ainda este ano. Com o avançar da seca, os custos de produção tenderão a subir, o que elevará a inflação, e o próprio racionamento aumentará o índice de infestação predial por mosquito Aedes aegypti em todo o Estado.

O governo continua perfurando poços e construindo adutoras em todo o Ceará. Mas, ainda é possível fazer mais. A Cagece precisa intensificar as ações de combate às fraudes, substituir os canos quebrados e consertar os hidrantes defeituosos que elevam tanto o desperdício no estado. Além disso, é fundamental que cada cearense faça sua parte utilizando a menor quantidade possível de água para a realização das tarefas do dia a dia.

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