quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Em Boa Viagem, água da torneira tem cheiro, gosto e cor incomuns

O desmatamento da mata ciliar, utilização de agrotóxicos e o despejo de esgoto já aumentaram o nível de poluição do reservatório.
Em tempos de estiagem, a população de Boa Viagem tem de se acostumar a usar uma água que não agrada: tem cheiro forte, é turva e deixa gosto desagradável na comida. “Até para tomar banho a gente tem que tampar o nariz”, reclama a agricultora Jaqueline da Silva Nunes. Ela aponta a água esverdeada armazenada em tambores para garantir os dois dias em que as torneiras não carregam água. “Faz tempo que está assim”.
Ainda que a sensação seja desagradável, assegura Regina do Vale, diretora do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), a água é própria para o consumo humano. “O caso de Boa Viagem não é isolado. Todas as fontes de captação superficial que estão em reservatórios com volume morto estão com muito acúmulo de resíduos, cita”.
De acordo com Eudásio Alves, químico do Saae, a Estação de Tratamento do município foi projetada, em 2000, para um nível de eutrofização bem inferior. O desmatamento da mata ciliar, utilização de agrotóxicos e o despejo de esgoto já aumentaram o nível de poluição do reservatório. Sem recarga, a situação piora.
Vez por outra, conta a cabeleireira Nilde Oliveira, 42, é necessário cancelar atendimentos por conta do cheiro. “O negócio está feio”, resume. “Dá é um constrangimento”. E para cozinhar, afirma Elisanete de Paiva, 43, não adianta usar o que sai da torneira. “O arroz fica roxo, tudo estraga muito rápido”. Para fazer comida, ela indica, a saída é comprar água engarrafada.
Eudásio afirma que o nível de cloragem no tratamento aumentou quatro vezes para garantir a qualidade da água. “O que é entregue não tem odor, mas, como tem um nível de matéria orgânica maior, quando ela é armazenada, isso entra em decomposição e gera o odor”, explica. Segundo a diretora do Saae, é priorizado, no tratamento, o padrão bacteriológico, que depende da desinfecção. “O padrão físico não tem como a gente corrigir, mas a água não tem bactérias”, ela garante.(Mariana Freire)

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