quinta-feira, 13 de março de 2014

Filha viu mãe grávida ser levada pelas águas de córrego na Zona Sul de SP


Filha observa córrego onde a mãe caiu na tarde de quarta-feira (Foto: Letícia Macedo/G1)
São Paulo disse ter visto a mãe ser carregada pelas águas na tarde de quarta-feira (12). A adolescente Emily Marcelle da Silva, de 16 anos, contou que a mãe pisou em falso e caiu no córrego Água Espraiada.
Emily disse que a dona de casa Isabel Cristina da Silva, de 36 anos, estava em casa com ela e outros filhos quando começou a chover. “Ela estava cantando umas músicas e dançando com a gente”, contou. A grávida de 8 meses já tinha sete filhos, sendo cinco menores.
Com a forte chuva, o nível do córrego Água Espraiada subiu muito e ela decidiu buscar o marido, que não estava em casa. O barraco de madeira, construído às margens do córrego, é ligado a uma viela por uma pequena passagem de madeira. “Ela estava voltando para casa. Foi aí que ela pisou em falso. Ela ainda tentou se agarrar em uns matos, mas não deu”, disse.
Um irmão de Emily foi quem deu o alerta sobre o acidente. “Eu até pensei que ele estava brincando, mas, assim que eu saí, já vi minha mãe dentro do córrego. Bateu um desespero. Eu não sabia se eu pulava na água ou se pedia ajuda. Eu chamei o meu vizinho. Eu não sei nadar, mas do jeito que água estava ela levava qualquer um.”
Rapidamente, a dona de casa foi carregada pelas águas. “Deixei meus irmãos com a vizinha e fui andando pela beira do córrego para ver onde ela estava. Os bombeiros vieram para cá, para a Rua Alba, mas o certo era ir direto para o piscinão”, disse.
A grávida chegou ao hospital com parada cardiorrespiratória às 17h43, mas morreu logo depois. Uma cesariana emergencial retirou da mulher um menino prematuro, que foi encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal. O bebê, que se chamaria Everton Luan, também não resistiu.
Paramédicos tentaram reanimar grávida com massagem cardíaca após ela ter sido retirada do córrego (Foto: Alexandre Serpa/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Essa não foi a primeira história triste vivida pela família. “Já passei muita humilhação nesse lugar. Agora eu sinto um pouco de revolta, sim, mas tenho que enfrentar a realidade. Agora é levantar a cabeça e tirar meus irmãos pequenos daqui”, afirmou Emily.
Sem vínculo empregatício, Isabel vendia cosméticos ou revistas nas ruas da cidade. Ela, que sempre morou na região, já havia enfrentado enchente e incêndio. “Em uma enchente, a gente perdeu todos os nossos documentos. Minha mãe conseguiu tirar os meus e da minha irmã. Pouco tempo depois, foi o incêndio. Aí perdemos tudo de novo”, lembrou Emily. Atualmente, nem todas as crianças tem documentação. “A gente precisava de ajuda para tirar os documentos”, disse Ellen, irmã de Emily, que acompanhava a entrevista.
Na viela onde mora, os vizinhos prestavam solidariedade e organizavam uma “caixinha” para alugar um ônibus para levar os moradores para o enterro. Afilhada de Isabel, Rita de Cássia, de 31 anos, levou os filhos da madrinha para casa. “Eles estão lá com os meus filhos. Ninguém sabe de nada do que aconteceu. Eu não deixei ligar a televisão. Eu não quero contar, porque eu não vou aguentar”, afirmou.
A irmã Regiane Auxiliadora da Silva, de 33 anos, que é vizinha de Isabel, não presenciou o acidente. “Ela andava preocupada. É muito problema que a gente enfrenta. Ela era minha irmã mais velha. Ela cuidava da gente. A cada vez que ela me encontrava perguntava se eu já tinha comido”, contou.
G1

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