domingo, 17 de junho de 2012






























Galpão secular, onde se guardavam máquinas do açude, está abandonado Foto; Alex Pimentel

População se mobiliza pelo resgate do reservatório, com atividades culturais que acontecem hoje

Se o açude do Cedro estivesse "vivo" estaria completando 106 anos. Embora se trate de uma obra arquitetônica, esse é o sentimento de grande parte da população de Quixadá. Para muitos, a primeira represa pública construída no Brasil, considerada um dos mais belos ambientes turísticos do País, está materialmente morta.

Em protesto contra a situação de abandono do parque hídrico, o Coletivo Dom Quixarte e o Instituto de Convivência com o Semiárido planejaram para este sábado, o manifesto "Cedro livre ! Cedro vive !". A programação especial tem o objetivo de expor alternativas de preservação e também comemorar, pela primeira vez, o aniversário de construção da represa secular, erguida para amenizar os efeitos da seca no Nordeste.
 
O manifesto tem início programado para as 8 horas, com ação ambiental de limpeza nas trilhas do Sangradouro e da Galinha Choca, o mais exótico monólito da região. De acordo com os organizadores, bares e restaurantes no entorno do Cedro também receberão a visita de dezenas de voluntários. Eles pretendem formar três equipes. Cada uma seguirá para um local diferente. Além da coleta de lixo, os ribeirinhos receberão orientações de preservação e serão conscientizados da necessidade de multiplicarem as mensagens ambientais para os visitantes.

Acadêmicos de Direito da Faculdade Católica Rainha do Sertão vão distribuir mudas de espécies nativas, para plantio na área verde do Cedro.

No início da tarde, a partir das 14 horas, os grupos participam de quatro oficinas temáticas: Gestão de mídias sociais e outras formas de comunicação; Moda Sustentável; Iniciativa em teatro e educação e de Introdução à permacultura, um método holístico para planejar, atualizar e manter sistemas de escala humana, como vilas, aldeias e comunidades, ambientalmente sustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis.

Apresentações
Os encontros serão realizados no estacionamento do Cedro, ao lado de um dos galpões erguidos há mais de 100 anos, para armazenar as máquinas utilizadas na construção do açude, hoje em estado de ruína.

As atividades prosseguem com diversas apresentações culturais. A partir das 16 horas o público poderá interagir com crianças da Escola Waldorf Micael de Fortaleza, mantida pela Associação para o Desenvolvimento da Antroposofia, uma instituição sem fins lucrativos, a primeira no Nordeste como centro difusor da pedagogia antroposófica, do respeito pela natureza e pelo ser humano.
Os alunos farão uma apresentação musical especial. Em seguida, vários grupos de teatro e dança, dentre eles a AABB Comunidade, Um Grito de Teatro, de Quixadá e a cantora Juçara Abé, de Fortaleza. O "Noite Sertão Fora do Eixo" ainda terá como atrações a banda Broken Necks, de Quixadá, Banda Andes, de Fortaleza e Hazamat, da Paraíba. A Vibe e os DJ´s Heitor Chaves e Marco Antônio encerram o evento do dia.

"Pretendemos mostrar que o nosso Cedro pode ser ocupado e preservado com ações culturais e ambientais realizadas pela própria sociedade civil. O Cedro livre ! Cedro vive ! é apenas um dos muitos exemplos viáveis de convivência sustentáveis e responsáveis", explicou Diná Matias, sobre o momento comunitário. Ela é uma das articuladoras do Coletivo Dom Quixarte, título do projeto interativo cuja proposta é reunir pessoas com interesse em compartilhar conhecimentos sobre diversos assuntos de forma colaborativa utilizando os conceitos de formação livre. A mesma opinião tem Augusto de Freitas, representante dos ribeirinhos do Cedro. Para ele enquanto a destruição, a poluição avançam as politicas públicas de preservação e recuperação da estrutura hídrica histórica se arrastam.
A única conquista consolidada ao longo dos últimos anos foi a interrupção da retirada de água para abastecimento da cidade. "Agora é mais difícil o Cedro secar, mas a situação poderia ser muito melhor com a transposição das águas do Açude Pirabibu para cá", acrescentou.

Conforme a acadêmica de Letras da Faculdade de Educação Ciências e Letras do Sertão Central (Feclesc), Lídia Barros, uma das integrantes do Coletivo Dom Quixarte, a iniciativa do Manifesto partiu do ambientalista e presidente do Instituto de Convivência com o Semiárido, Osvaldo Andrade. A Organização Não Governamental luta há anos pela preservação da mata nativa, dos mananciais de riachos e rios, e pela implantação de modelos sustentáveis de áreas naturais da região. O Açude do Cedro é uma delas. Sem a intervenção da sociedade livre e modificação do modelo de exploração do espaço turístico e produtivo agrícola o ecossistema local será ainda mais degradado.

FIQUE POR DENTRO
Reservatório é patrimônio nacional
A ordem de construção do Açude do Cedro partiu do imperador Dom Pedro II, em decorrência do grande impacto social provocado pela seca de 1877 - 1879. Entretanto, a obra só foi realizada pelos primeiros governos republicanos do Brasil, entre os anos de 1890 e 1906. Foram necessários 16 anos para a conclusão da primeira represa pública construída em território brasileiro. Segundo historiadores, nunca foi inaugurada oficialmente. A barragem, propriedade do Departamento Nacional de Obras contra a Seca, tem capacidade para 125.694.000 m³. O superdimensionamento da barragem do Cedro em relação ao potencial da sua bacia hidrográfica faz com que suas sangrias sejam raras. Em toda sua história, sangrou apenas seis vezes. O reservatório dispõe de locais para banho, pescaria e para prática de esportes náuticos. Também possui uma extensa rede de canais para irrigação, a primeira construída no Ceará. Hoje, não abastece mais a cidade de Quixadá. A partir de praticamente toda a sua extensão é possível ver a Pedra da Galinha Choca, considerada cartão postal do Município. O seu conjunto arquitetônico foi tombado em 1977 como patrimônio nacional.

Mais informações:
Coletivo Dom Quixarte
Movimento e instrumento de sociedade livre
Telefone: (88) 9633.3544
www.domquixarte.com

ALEX PIMENTELCOLABORADOR
COM INFORMAÇÕES DO JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE

Nenhum comentário:

Postar um comentário