Estátua de São Francisco
A Festa de São Francisco das Chagas traz no seu conteúdo uma história de misticismo e fé.
De todas as estradas eles partem em busca de algo que justifique a existência e a própria esperança nordestina. Maltrapilhos, sofridos pela luta diária e árdua com a terra, cansados da longa jornada levam no coração, uma só riqueza: a fé. São os romeiros na eterna travessia dos Sertões, onde a sobrevivência às vezes está além de qualquer força.
Anualmente eles se preparam para enfrentar o caminho que leva a uma cidade onde tudo é religiosidade: Canindé. Não importa o sofrimento, nem qualquer lágrima atual. Apenas o coração sincero ao santo protetor, São Francisco. Eles chegam ao santuário com a certeza de que algo de justo pode ser conquistado sob o céu nordestino. Às vezes, com o único poder que um povo à margem da vida encontra pela frente: a devoção divina.
È uma forma de devoção popular que não pertence à essência da fé cristã. È um chão santo onde os devotos falam a divindade com os pés. É nesses espaços de uma cidade simples de um povo acolhedor, que o peregrino entra em comunhão íntima com Deus, com o próximo, com a realidade e com a natureza.
Canindé é uma cidade do interior cearense que exemplifica como poucas em todo País, a persistência da devoção em São Francisco das Chagas, como um exemplo para o povo. Localizada a 126 quilômetros de Fortaleza, o Município de Canindé recebe anualmente, milhares de romeiros vindos do Brasil. Eles se caracterizam com trajes simples, e que lembram os mesmos usados por São Francisco, além de viajarem muitos quilômetros para prestar sua homenagem a um dos santos mais populares no Nordeste.
O santo do milênio morreu aos 44 anos, Nasceu em 1182 na Itália e morreu no dia 03 de outubro de 1226. A igreja católica mantém a data dos festejos, que começam no dia 24 de setembro com o levantamento da bandeira e se encerra no dia 04 de outubro com a procissão da imagem do padroeiro às 16 horas pelas principais ruas da cidade.
O tema da romaria é; “São Francisco, alegria de viver o Evangelho”. Este ano, o Município de Canindé comemora 257 anos de fé e devoção ao “Santo do Sertão”, o homem que imitou Cristo e se tornou o espírita mais evoluído do planeta. As primeiras romarias datam do ano de 1758.
A Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil irá realizar uma série de homenagens para marcar datas importantes no Santuário. Na abertura dos festejos que serão presididos pelo Pároco e Reitor frei Marconi Lins, as atenções estarão voltadas para os 100 anos do novo Santuário, os 100 anos da Arquidiocese, os 125 anos do Painel de São Francisco que todas as noites deixam a Basílica com destino a Praça dos Romeiros, 100 anos da Igreja de Cristo Rei, local onde ocorrem as promessas na Via Sacra e os 10 anos da construção da Estátua de São Francisco.
A reforma completa do antigo santuário, transformado no atual templo foi feita pelos arquitetos, o italiano Antônio Mazzini e o brasileiro Thomaz Barbosa, entre 1910 e 1915. No dia 05 de maio de 1915 ela foi benta. É a Matriz do povo de Canindé e o Centro da Romaria de milhares de devotos do milagroso São Francisco.
Em 1925, a Santa Sé apostólica eleva o Santuário de São Francisco das Chagas à dignidade de Basílica Menor. Esta solenidade aconteceu por ocasião do 7º Centenário da Morte de São Francisco.
A publicação foi assinada por Dom Manuel da Silva Gomes as letras apostólicas de Pio IX.
O Painel de São Francisco completa 125 anos. Foi criado no dia 10 de julho de 1890 pelo Padre Manoel Cordeiro da Cruz. Um orgulho para os romeiros e uma relíquia para a Igreja Católica. Pesa meia tonelada.
A Igreja do Monte foi construída entre 1910 e 1915 e benta no dia 29 de junho de 1917, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. Em 1937 o Apostolado da Oração de Canindé pediu mudanças do orago para o Cristo Rei, uma vez que o papa tinha instituído essa festa. A imagem de Cristo Rei veio de Porto Alegre.
Já a Estátua do santo que mede 30 metros e 25 centímetros tem 2 milhões e 250 mil pastilhas de revestimento e uma fé incalculável. Foi inaugurada no dia 04 de outubro de 2005, com a presença do Arcebispo de Fortaleza Dom José Antônio Tosi.
A Arquidiocese de Fortaleza também comemora o seu centenário. De acordo com o coordenador de Liturgia do Santuário, Cirano Alisson, que completa 10 anos de romaria, na madrugada do dia 24 de setembro, no hasteamento da bandeira, será feita menção aos 100 anos do Novo Santuário, com a participação dos frades franciscanos.
Dentro dos festejos alusivos ao santo do milênio, no dia 26 de setembro, a noite da novena será dedicada a Juventude da Arquidiocese. Nessa data, homenagens ao dia Nacional da Juventude que será comemorado em Canindé.
No dia 28 de setembro, a novena será dedicada ao Centenário da Arquidiocese de Fortaleza. Frei Marconi Lins, diz que não se pode mais imaginar o Ceará sem Canindé e sua história.
Um fato curioso é que neste período serão celebradas 100 missas. “Não foi proposital pelas comemorações centenárias, mas é interessante”, reconhece Cirano.
Canindé é ASSIS BRASILEIRA, diz frei Marconi em referência à Terra Natal do santo. “Canindé não pode existir sem o santuário e nem o santuário existe sem o povo que dar o seu significado verdadeiro: lugar de encontro com Deus, de valorização da vida como dom sagrado, de fortalecimento da fé, e consequentemente, de compromisso com os valores do Evangelho tal qual viveu São Francisco no século XIII”, explica frei Marconi que faz aniversário no dia 04 de outubro, data de encerramento da romaria.
Para muitos estudiosos à aproximação do romeiro com São Francisco é algo que muita das vezes o nordestino pobre não conhece a história. Alguns fiéis acabam imaginando até mesmo situações utópicas com o pobrezinho de Assis, como o mito que o santo foi escondido pelos frades e vive até hoje no Convento de Santo Antônio, ou que o santo era um mendigo que fazia bondades em Canindé.
Nem imaginam que São Francisco em vida nunca veio ao Ceará. “É a liberdade criativa e a fé na proximidade do santo, Não é um ente distante, mas próximo, sujeito até mesmo a mitos e lendas”, observa o historiador e frei Joãozinho Sannig, da Ordem dos Frades Menores.
Frei Joãozinho lembra que a história das peregrinações remonta a época em que os judeus piedosos iam a Jerusalém, como aquela que Jesus participou aos 12 anos. “Os cristãos realizam suas peregrinações a Roma para visitar os túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, o que deu origem à palavra romaria”, frisa o frade.
“Em todas as religiões existem santuários, lugares e templos sagrados, para onde se dirigem os devotos em busca de participar do sagrado, de suas bênçãos, de suas graças, de seus milagres”, coloca frei Joãozinho.
A crença na religiosidade é um testemunho da marca do nosso povo, da nossa gente, que ficará definitivamente como um guia que orientará a caminhada de homens e mulheres de fibra e coragem, de corações generosos e de esperança no futuro. Sob as bênçãos do São Francisco de Canindé, o santo do sertão, a cidade caminha célere para o progresso e o desenvolvimento. Essa trajetória jamais poderá ser interrompida por interesses próprios.
Fotos e Texto: Antônio Carlos Alves
