Mulheres entre 50 e 55 anos, casadas, heterossexuais, na sua maioria com ensino fundamental incompleto. Esse é o grupo da população cearense em que a HIV/Aids mais avançou nos últimos anos. O alerta é da infectologista e professora da Universidade Federal do Estado de São Paulo, Simone Tenore.
Segundo ela, esse crescimento é observado em todo o País e chama atenção em razão desse segmento não se incluir como grupo de risco e não ter hábito de exigir do marido ou parceiro o uso do preservativo e acreditam na fidelidade de seus cônjuges. “Dos casos notificados de HIV+ em mulheres, 91,2% tem a transmissão sexual como principal causa e 96,6% das mulheres contaminadas vivem relação heterossexual”, aponta.
De acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), em 2006, a taxa de detecção para essa faixa etária de mulheres era de 5.3 para cada 100 mil habitantes. Em 2013, ela pulou para 7.8 para o mesmo número de pessoas. Entre estas mulheres, o diagnóstico e o início do tratamento são tardios. “Sem falar do estigma e preconceito que a doença ainda pode gerar”. Segundo a infectologista, nessa faixa etária, a doença é também relacionada à depressão, baixa estima e sentimento de culpa – fatores que afastam as mulheres do diagnóstico e do tratamentO.
A médica ainda ressalta outro dado alarmante: no mundo, a cada minuto, uma mulher é infectada. “Fatores biológicos tornam a mulher de duas a quatro vezes mais suscetível ao HIV do que homens”, explica.
Outra faixa etária que preocupa com relação ao HIV/Aids é composta por jovens entre 15 e 24 anos de idade. “Essa população se preocupa menos com a Aids”, frisa.
Também nessa faixa, segundo dados mundiais, a infecção de mulheres entre 15-24 anos é duas vezes o número de homens infectados na mesma faixa etária. No Brasil, esta é também a faixa etária mais acometida. Das gestantes entre 15-19 anos, 10,8% são HIV e a maioria sabe de sua condição depois de ficarem grávidas durante os exames de pré-natal.
Infecção
Em 1990, o Brasil registrava um caso de HIV/Aids em mulheres a cada 15 homens; a partir de 1991-92, houve um crescimento progressivo entre as mulheres, chegando a 2001 com um caso a cada três homens e, agora, a relação é de um caso em mulher a cada dois homens. “As mulheres acabam acreditando que a fidelidade é proteção contra a doença e vêm descobrir a infecção tardiamente”, avalia Simone.
A Aids chegou a Fortaleza em 1983, quando foi registrado o primeiro caso. A partir de então, até dia 15 de novembro desse ano, foram computados 5.768 casos. Sendo que, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), os dados de 2013 e 2014 ainda são parciais.
Com o objetivo de alertar e esclarecer a população sobre os riscos da doença, a Sesa irá promover ações hoje, no Aterro da Praia de Iracema. Entre elas, o teste rápido, entre 15h e 20h.
Na segunda-feira, dia 1º, o teste será ofertado no Laboratório Central (Lacen), na Avenida Barão de Studart, das 8h ao meio-dia e das 13h30 às 17h. Já a SMS estará no Terminal do Siqueira ofertando ações e insumos de prevenção e testagem rápida de HIV e Sífilis das 9h às 15h. Os serviços de saúde da SMS estarão desenvolvendo rodas de conversa com a população e universidades, blitz educativas, testes e vacinação contra hepatite B.
Para a coordenadora da área técnica de DST/Aids da SMS, Fabiana Seles, o fortalecimento das ações de prevenção, o acesso ao diagnostico oportuno, tratamento precoce e o fortalecimento de uma rede de cuidados são medidas para o controle da epidemia e consequentemente a redução de novos casos.
Estimativas brasileiras sugerem que no Brasil existem 718 mil pessoas vivendo com o HIV. Nos últimos dez anos, a infecção por HIV cresceu cerca de 2%, sendo que as maiores taxas de crescimento da doença são registradas nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Amazonas e Rio de Janeiro. As regiões Norte e Nordeste respondem pelo maior crescimento de casos, com 92,7% e 62,6% nos últimos 10 anos.
É também no Norte e Nordeste, o maior índice de mortalidade por Aids na última década – 60% de crescimento e 33,3% respectivamente. A mortalidade por Aids no estado do Ceará continua com a curva ascendente, em especial no sexo masculino. Chama atenção a discreta redução das taxas no ano de 2010, sem explicação epidemiológica plausível. Em 2006, a taxa era de 2.8 por 100 mil habitantes. No ano passado, a taxa pulou para quatro por 100 mil.Sabe-se que vários fatores contribuem para o aumento das taxas de mortalidade, como o diagnóstico e o tratamento tardio, e a falta de adesão a terapia antirretroviral.
Diário do Nordeste