O dia começou com uma notícia motivadora para os alemães: o ex-piloto de Fórmula 1 e ídolo Michael Schumacher saía do coma após quase seis meses. Pode-se dizer que em campo sua seleção tratou de homenageá-lo, acelerando e decidindo no primeiro tempo. Principalmente por parte de Thomas Müller, autor do primeiro hat-trick da Copa do Mundo e nomeado o melhor em campo. Os três gols do atacante do Bayern de Munique deixaram Portugal de Cristiano Ronaldo como o retardatário do Grupo G após os 4 a 0, nesta segunda-feira, na Arena Fonte Nova.
Hummels fez o outro e determinou que, até aqui, Salvador é a cidade das goleadas do torneio – na última sexta-feira, a Holanda aplicou 5 a 1 em cima da campeã Espanha. A Alemanha, soberba mesmo diante de todas as preocupações com o clima, é a líder da chave, com três pontos. Estados Unidos e Gana se enfrentam ainda nesta segunda, às 19h (de Brasília), na Arena das Dunas, em Natal.
Foi uma bela maneira de também atingir uma marca histórica sob os olhares da chanceler Angela Merkel, que viajou basicamente para acompanhar a estreia de seu país. A Alemanha, tricampeã, chegou aos 100 jogos em Copas do Mundo, à frente inclusive do Brasil. Em 11 das 17 edições, os europeus acabaram entre os três melhores. Venceram agora 61 vezes, com 19 empates e 20 derrotas.
Alemanha, sua casa é aqui
É claro que estava quente. De acordo com o site da Fifa, 26ºC, 80% de umidade e uma sensação de que havia um sol para cada um dos 22 em campo. Os alemães, tão acostumados ao frio, mostraram que já fizeram da Bahia o seu recanto. Correram, principalmente no setor ofensivo, deixando clara a intenção de Joachim Löw em não prender algum homem ali – seja ele um falso nove, até porque os dois originais, Klose, pelo estilo, e Schürrle, pela camisa, ocupavam um lugar no banco.
Bastian Schweinsteiger também estava por lá, mas sem roupa de jogo – o problema no pé-esquerdo não era mesmo tão simples. Marco Reus, maior esperança da geração, assistia à partida de sua casa, em Dortmund, com um gesso imobilizando seu pé lesionado. Para a Alemanha, a abundância de jogadores brilhantes faz suas ausências sequer serem sentidas em jogos teoricamente cascudos como este.
Foi Portugal quem mais incomodou nos primeiros minutos, porém. O contra-ataque era uma arma para tentar ludibriar a marcação compacta dos alemães. Cristiano Ronaldo, logo aos sete, forçou Neuer a praticar boa defesa. Pouco antes, Hugo Almeida, em devolução do camisa 7, também havia assustado. Pepe e Rui Patrício fizeram o mesmo, mas do outro lado, o que ocasionou numa saída de bola à pronta-entrega para Khedira. O volante emendou de primeira e por centímetros não abriu o placar.
Seria questão de tempo. Numa linda troca de passes de Müller e Boateng, Götze recebeu na grande área e foi levemente deslocado por João Pereira. Pênalti para Müller marcar o seu sexto gol em Copas do Mundo – aos 24 anos. A bola entrou no canto direito de Rui Patrício.
É Portugal, não Real Madrid
Portugal tinha como alternativa os cruzamentos para Hugo Almeida tentar se virar sozinho. O problema é que era Nani o responsável por boa parte deles – quando não levantou a bola, conseguiu assustar com um chute de fora da área. Jogar em sua seleção é como um choque de realidade para Cristiano Ronaldo, um grande teste de paciência para quem está acostumado a ter Gareth Bale, Benzema e Di María como companheiros no Real Madrid. Como adultos e crianças, galácticos e coadjuvantes. Ainda assim, o português esteve abaixo do reconhecido nível de melhor do mundo, isolado na ponta-esquerda, e terminaria a primeira etapa sob mais vaias que aplausos.
Era fácil explicar. A Alemanha dominava o jogo e já construía grandes oportunidades. Numa delas, Özil rolou para Götze chegar batendo – João Pereira, desta vez, cortou na bola. O escanteio terminou com um gigante Hummels, zagueiro de classe e técnica, subindo mais alto que Pepe. Os portugueses teriam mais uma chance para tentar mudar qualquer cenário, mas Coentrão, sabe-se lá por que, optou pelo toque quando tinha só Neuer em sua frente.
Portugal acabou punido pela péssima escolha do lateral. No lance seguinte, Müller caiu após o braço de Pepe atingir o seu rosto. O zagueiro provavelmente pensou que estava num jogo de Campeonato Espanhol com o Real Madrid e deu uma leve cabeçada como intimidação. O árbitro Milorad Mazic reagiu com um cartão vermelho. Entregues, os lusos ainda sofreriam o terceiro graças ao faro de gol de Müller: o camisa 13 dividiu com Bruno Alves e emendou de canhota, já nos acréscimos.
Müller se isola na artilharia
Portugal não era um esboço do que Paulo Bento planejava quando concedeu entrevista coletiva na véspera. O lance em que Nani e Coentrão se esbarram na grande área resume o dia infeliz de Cristiano Ronaldo e seus amigos. O camisa 7 até tentou aparecer mais, mas suas conclusões sequer tiveram a direção do gol – uma cobrança de falta patética em especial chamou a atenção e as vaias. Para piorar, Coentrão se lesionaria sozinho ao tentar alcançar uma bola praticamente perdida. A mão na virilha indica uma preocupação extra para a sequência do Mundial.
A Alemanha praticamente não tinha mais preocupações. Voltou decidida a evitar o desgaste, passar o tempo, explorar contra-ataques. Özil, aos seis, perdeu a chance de calar alguns críticos. Götze, quem dera o passe anterior, também não balançou as redes aos 24. Mas Müller, em grande tarde, mostrou como se deve fazer. Mal foi exigido, é bem verdade: apenas completou o rebote de Rui Patrício em cruzamento de Schürrle, atirando-se na pequena área. Na falta de um 9, o mais jovem goleador alemão marcou sua presença para liderar também a tabela de artilharia da Copa com o primeiro hat-trick.
G1