Quixeramobim possui a maior bacia leiteira do estado do Ceará, que está ameaçada pela seca - Foto Crisanto Teixeira |
Após três séculos de existência, Quixeramobim enfrenta uma de suas maiores crises. O momento é de reflexão e da soma de esforços para evitar a quebra total do segmento produtivo. Em 1712, o colonizador, português Antônio Dias Ferreira instalou a Fazenda de Criar Gado, denominada de Santo Antônio do Boqueirão, o que viria anos mais tarde se transformar, no que é hoje, a cidade de Quixeramobim, geograficamente pertencente a região do sertão central do Ceará.
Com a fazenda, teve inicio a principal atividade econômica do Quixeramobim, passando anos mais tarde para o binômio: "Boi e Algodão", com o criatório bovino associado a cultura do algodão, uma junção de propósitos, e de união, entre os reinos vegetal e animal, que por mais de cinco décadas transformou o município no maior produtor de algodão de sequeiro do Nordeste brasileiro.
Porém, na metade do século XX, o Brasil sem querer, importou dos Estados Unidos uma praga que dizimou a cultura do algodão, o 'Bicudo', um inseto muito pequeno, más que provocou estragos gigantescos, assim, inviabilizando a atividade da cotonicultura na região do sertão central. Inúmeras usinas de beneficiamento de algodão fecharam, enquanto os agricultores, por conta do alto custo de produção, desistiram da cultura do algodão, outrora, o 'Ouro Branco'.
Quixeramobim Se Especializou na Produção de Leite Que Movimenta Sua Economia - Foto Crisanto Teixeira |
Porém, na metade do século XX, o Brasil sem querer, importou dos Estados Unidos uma praga que dizimou a cultura do algodão, o 'Bicudo', um inseto muito pequeno, más que provocou estragos gigantescos, assim, inviabilizando a atividade da cotonicultura na região do sertão central. Inúmeras usinas de beneficiamento de algodão fecharam, enquanto os agricultores, por conta do alto custo de produção, desistiram da cultura do algodão, outrora, o 'Ouro Branco'.
Empresário Luiz Girão - Imagem da Internet - Domínio Público |
Nesse mesmo período, chega a Quixeramobim, uma empresa com a determinação de alavancar a produção de leite e assim, manter vivo o sonho iniciado em 1712, com a chegada do colonizador. A frente desse projeto estava o empresário Luiz Prata Girão, o Luizinho da Betânia. Muitos investimentos foram feitos, a partir da produção e incentivo do alimento volumoso do rebanho, a introdução do carro do leite, responsável por trazer a produção do sertão para a cidade e a melhoria genética do rebanho bovino, voltada para a corrente leiteira.
Com a instalação do Laticínios Betânia a economia do sertão central ganhou impulso de grande destaque, gerando emprego e renda para milhares de pequenos, médios e grandes agropecuaristas. O sucesso foi tamanho, que o Quixeramobim passou a contar com a maior bacia leiteira do estado, com uma produção média de até 160 mil litros de leite por dia. As agro-industrias familiares, que trabalham com o produto, 'leite in natura', cresceram e com elas melhorou a qualidade de vida, fortalecendo a economia, assim fixando o homem e a mulher no campo, reduzindo drasticamente o êxodo rural.
O Vaqueiro Aboiador Luiz Monteiro, Simbolo da Cultura do Boi no Sertão Central - Foto Crisanto Teixeira |
Chegamos no século XXI e as incertezas surgem, ante a possibilidade de sucessivas secas, o que diminuiu a oferta de água para o consumo humano, animal e a produção. Estamos atravessando o ano de 2015, já no período crítico, os b-r-o - b-r-o-s...! Para os mais antigos e experientes agricultores, é nos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro que as coisas ficam mais difíceis, pois faltam água e alimento para a manutenção dos animais e até para os humanos. Também conhecida como a época da escassez, quando a porca torce o rabo, adágio popular!
Hoje, a situação é das mais críticas, Quixeramobim conta com cerca de 80 mil habitantes, sendo que na zona rural está a nossa galinha dos ovos de ouro, a produção de leite. Porém, na maioria das fazendas não tem água para a manutenção da atividade produtiva e até para salvar o rebanho. A água se transformou em artigo de maior desejo, não só na zona rural, bem como na cidade. Já alcançamos quatro anos de invernos irregulares e de pouca chuva.
Carro-Pipa é a salvação dos moradores da cidade e do sertão de Quixeramobim - Foto Crisanto Teixeira |
Com as reservas se exaurindo, o agropecuarista que quiser salvar sua fazenda e o rebanho, tem que apelar para promessas ao santo de devoção, pedindo chuva, como alternativa de salvação do sertanejo. Enquanto isso, muitos desses já desacreditado na súplica cearense, estão se valendo de poços profundos na tentativa de encontrar água subterrânea, e assim, de forma sofrida não assistir a derrocada de sua atividade, que fora construída com anos de luta e dedicação. A água passou a ser a principal necessidade primária dos agricultores e pecuaristas.
Agricultores e Pecuaristas Já Utilizaram Até o Mandacaru Para Alimentar o Gado - Foto Crisanto Teixeira |
Assim, não restando outra alternativa, centenas de empreendedores rurais estão dando o seu jeito. Agricultores Familiares e Pecuaristas estão no mesmo barco, ou seja, sofrendo com a falta d'água. Segundo o presidente da Associação dos Agropecuaristas do Sertão Central - Francisco Carlos Eloy, se o governo não socorrer os produtores, os prejuízos serão incalculáveis, pois a maioria do rebanho bovino vai morrer de fome e sede. Carlos Eloy disse ainda, que muitos dos pequenos e médios fazendeiros estão vendendo seu rebanho, para não vê-los morrer de fome, assim aumentando os prejuízos no campo.
Geólogos realizam estudo para encontrar água na Fazenda Descanso em Quixeramobim - Foto Crisanto Teixeira |
O agropecuarista José Maria Pimenta Lima, ao vê acabar a água de sua fazenda, mandou cavar um poço profundo, e assim, vê atendida a necessidade do precioso líquido na Fazenda Descanso, no município de Quixeramobim. "Estamos assistindo a derrocada da atividade produtiva no campo, por conta das sucessivas secas; aqui na fazenda os dois açudes secaram, um poço cavado há mais de vinte anos secou e assim, ficamos sem água; para não vê os animais morrerem estava comprando água, mais estava muito caro pagar o caminhão-pipa, e assim, resolvi investir mandando cavar um novo poço; ainda bem que, com o apoio da tecnologia, encontramos o que é vital para a vida de todos, a água", disse Zé Maria Pimenta.
Crisanto Teixeira - Jornalista e Historiador.
APOIO CULTURAL - DR. MÁRCIO PIMENTEL
APOIO CULTURAL - DR. MÁRCIO PIMENTEL