Fortaleza. Pelo menos 20 municípios permanecerão com situação crítica de abastecimento de água neste primeiro trimestre do ano. Desse total, ainda há aqueles que aguardam obras emergenciais, sobretudo, perfuração de poços profundos, adutoras e carros-pipas para atendimento da demanda nas cidades. A situação mais grave é do município de Jaguaretama, uma vez que o fornecimento será por carro-pipa nos próximos dois meses e que até o fim da semana ainda está em fase de implementação pela Companhia de Águas e Esgotos do Ceará (Cagece) e Prefeitura Municipal.
Esse quadro foi debatido, ontem, na primeira reunião de 2015 do Comitê Integrado de Combate à Seca, realizado no Comando do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará, presidida pelo titular recém-empossado da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), Dedé Teixeira. O novo secretário explicou que o encontro tinha um objetivo maior de conhecimento do quadro de seca instalado no Estado e que vem penalizando não apenas a agricultura e a pecuária, mas o próprio homem do interior.
Ao apresentar o quadro das cidades com situação mais crítica em seus mananciais, o coordenador de Gestão Hídrica, da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Gianni Lima, explicou que das 20 cidades, 12 ainda não contam com obras emergenciais para suprir as necessidades de água das populações.
Na apresentação ao comitê, ele pontuou como localidades mais vulneráveis as existentes em Apuiarés, Miraíma, Canindé, Caririaçu, Crateús, Irauçuba, Jaguaretama, Maranguape, Nova Russas, Novo Oriente, Parambu, Pereiro, São Luis do Curu, Senador Sá, Tauá, Tejuçuoca, Uruoca, Ipaporanga, Mineirolândia e Jaguaribe.
“Caso persista a seca neste ano, há a possibilidade de que localidades desses municípios fiquem também em situação crítica na questão do abastecimento”, disse Gianni. No caso de Jaguaretama, a Defesa Civil do Estado garantiu que o fornecimento de água estará garantido pelos próximos dois meses, por meio de parceria entre o governo do Estado, com o apoio da Cagece, e Prefeitura.
Funceme
Também presente à reunião, a meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Meiry Sakamoto, disse que o órgão ainda mantém a previsão predominante de chuvas abaixo da média histórica, em torno de 55%, para o primeiro trimestre deste ano. Ela informou que uma avaliação será informada ainda neste mês, mas até o momento não alterações significativas que possam mudar este prognóstico, que são, especialmente, as observações em torno dos oceanos Atlântico e Pacífico. Este último ainda tem uma influência negativa do fenômeno El Niño, que interfere na quadra chuvosa do Semiárido brasileiro.
Segundo Meiry, mesmo que houvesse uma quadra dentro da média histórica, o Ceará ainda detém um considerável déficit de recarga em seus açudes, em função dos três anos seguidos de seca. Ela reforçou a posição da Funceme em não considerar as chuvas caídas neste fim de semana no Estado como prenúncio da quadra invernosa.
Chuvas não alteram volume das bacias
Sobral Apesar das fortes chuvas que atingiram o Ceará no fim de semana, as principais bacias apresentam pouca variação, entre aumentos e quedas de volume em relação ao dia primeiro de janeiro. De acordo com o Portal Hidrológico do Ceará, a média permanece em 20,8%.
Com 112 açudes de volume inferior a 30% e vivenciando uma seca que dura três anos, o Estado teve uma média de chuva de 29,9 mm nos últimos cinco dias, cerca de 28% do necessário para a média mensal esperada, que é de 98,7mm, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). Apenas o Açude Gavião, em Pacatuba, possui volume superior a 90%.
As precipitações registradas nos postos pluviométricos da Funceme na manhã de ontem tiveram como melhores chuvas Beberibe (76.0 mm), Caucaia (54,0mm) e Itaiçaba (44,4 mm). Conforme a Funceme, essa nebulosidade está associada ao sistema atmosférico Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN). Ainda de acordo com a Instituição, por conta desse fenômeno natural, além de Itatira, choveu também em outros municípios, como Crateús, Independência, Mulungu, Graça, Solonópole e Quixadá
Segundo os pesquisadores da Funceme, o Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) é um sistema de baixa pressão atmosférica e circulação horária a aproximadamente 12 quilômetros de altura. Atualmente ele se encontra sobre o Nordeste brasileiro. Esse é o padrão observado nos últimos dias.
A chuva que banhou algumas regiões do Estado nestes últimos dias constava na previsão do tempo elaborada nos dias anteriores pela Funceme e foi provocada pela combinação de dois sistemas atmosféricos: o primeiro, um VCAN, típico da pré-estação chuvosa, cuja atuação no Nordeste brasileiro já dura duas semanas, trazendo algumas chuvas isoladas ao Ceará. O vórtice também foi responsável pela chuva de granizo em Ipu, no dia 30 de dezembro, e chuvas na Zona Norte do Estado.
Fonte: Diário do nordeste