Falta de exercício físico, alimentação inadequada, consumo precoce de álcool e drogas. Por esses e outros motivos, adolescentes e pré-adolescentes aparecem com mais frequência nos consultórios de cardiologistas do que alguns anos atrás. Meninas e meninos com idades entre 10 e 19 anos já sofrem de problemas cardiovasculares que, na maioria das vezes, deveriam surgir apenas em estágios mais avançados da vida.
No ano passado, segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), 45 pessoas nessa faixa etária morreram no Ceará em virtude de doenças do aparelho circulatório. O número tem oscilado nos últimos anos, mas, em relação a 2014, houve aumento de seis óbitos. Em 2015, os garotos foram os mais afetados, representando 62% do total de vítimas. Entre as garotas, devido ao alto nível hormonal, que previne contra agravos do tipo, as fatalidades foram menores.
Fatores de risco
A cardiologista Ana Lúcia de Sá, ex-presidente da Sociedade Cearense de Cardiologia, explica que fatores de risco para doenças cardiovasculares, como obesidade, sedentarismo, diabetes e pressão alta, são cada vez comuns entre crianças e adolescentes. Com isso, os problemas podem começar a se manifestar mais cedo. "Eles estão se tornando mais obesos, mais sedentários e, por isso, tem aumentado a incidência de diabetes tipo 2 e de hipertensão, que são fatores de risco", afirma.
Na semana passada, o Ministério da Saúde divulgou o Estudo de Riscos Vasculares para Adolescentes (Erica), mostrando hábitos que têm influenciado de forma negativa na saúde de meninos e meninas em todo o Brasil. Segundo a pesquisa, 17,1% dos adolescentes estão com excesso de peso e 8,4% estão obesos. Além da alimentação pobre, com poucas frutas e verduras, e a baixa ingestão de água, eles também pecam pela pequenas quantidade de atividade física. Segundo o estudo, 73,5% passam duas ou mais horas por dia em frente à TV, ao computador ou ao videogame.
A médica ainda destaca que o uso de drogas e outras substâncias tóxicas, o tabagismo e o consumo de álcool, que, embora não tão recorrentes, já fazem parte da realidade de alguns meninos e meninas, também tiveram impacto no desenvolvimento de problemas ainda na infância e na adolescência. Ainda conforme o Erica, 18,5% dos adolescentes brasileiros já experimentaram cigarro.
"A cocaína, por exemplo, pode causar infarto. Os próprios anabolizantes, também, usados para a academia, e o consumo de álcool, que às vezes se inicia já nessa época, aumentam a chances de ter doenças", acrescenta Ana Lúcia.
A cardiologista também alerta que esses fatores ainda podem se somar a predisposições genéticas, gerando casos de ainda maior risco. "Quando esse estilo de vida não saudável se soma à história familiar, pode ser um desastre", diz. "O tempo que os sintomas demoram para se manifestar vai depender dessa carga de fatores", completa.
Prevenção
Segundo Ana Lúcia Sá, a prevenção contra doenças cardiovasculares na adolescência começa ainda na infância. Os pais devem estimular a alimentação saudável e a prática de atividades.
Para aqueles com histórico familiar de problemas de saúde, a atenção deve ser ainda maior. "A partir dos três anos, é preciso medir a pressão arterial e o colesterol dessas crianças e, desde cedo, acompanhar peso e alimentação. Elas precisam ser acompanhadas de perto por médicos para se tornem adolescentes e adultos saudáveis", ressalta.
Fonte: Diário do Nordeste