A vinda do cardeal dom João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, em Roma, à região do Cariri no início deste mês reascendeu a esperança de milhares de fiéis católicos. Isso se dá em relação a duas postulações que tramitam na Santa Sé: a beatificação da mártir Benigna Cardoso e a reabilitação sacerdotal de Padre Cícero Romão Batista.
Embora o cardeal tenha sido enviado pela Santa Sé para oficialmente representar o Papa Francisco durante as comemorações do centenário da Diocese de Crato, mais exatamente durante os festejos de Nossa Senhora da Penha, padroeira da diocese, a visita realizada por ele ao túmulo onde estão depositados os restos mortais da jovem Benigna foi recebida pelos devotos da mártir como uma sinalização de que a beatificação da jovem poderá acontecer brevemente.
Na ocasião em que esteve no Cariri, o cardeal evitou prestar informações mais detalhadas sobre ambos os processos. No entanto, deixou escapar que, pessoalmente, nutre esperança de que o Vaticano estabeleça decisões que possam ir ao encontro dos fiéis que mantém, através de suas orações e demonstração de crença fervorosa, expectativas positivas em relação às análises que estão em pleno processo de tramitação em torno dos dois casos controversos.
O processo pedindo a beatificação da menina Benigna foi aberto oficialmente em 16 março de 2013, tão logo a Diocese de Crato recebeu o “Nihil Obstat” da Sagrada Congregação para a Causa dos Santos, aprovando o inicio dos estudos.
A partir daí a comissão nomeada por Dom Fernando Panico começou a recolher declarações das testemunhas que conheceram Benigna, além de depoimentos que relataram milagres e graças alcançadas por intercessão da menina-mártir. Essa etapa se constituiu na fase diocesana do processo, a qual foi encerrada num prazo recorde: em 21 de setembro de 2013.
Protocolo
Toda a documentação produzida pela comissão foi levada para Roma e protocolada junto a Sagrada Congregação para a Causa dos Santos. Em 14 de outubro de 2013, dom Fernando Panico teve audiência particular com o Papa Francisco quando tratou do processo de beatificação de Benigna, bem como do pedido de reabilitação canônica do Padre Cícero. Ambas as iniciativas partiram do Bispo de Crato.
Dom João Braz de Aviz avaliou durante sua estada na região que a Diocese de Crato expressa uma fé muito calorosa e a devoção ao Padre Cícero estimula milhares de fiéis a estarem próximos de Deus.
“É uma devoção que cresce constantemente. Tenho certeza que o papa Francisco está olhando com muito carinho para o apelo destes milhares de fiéis”, afirmou o religioso.
Os documentos referentes ao pedido de reabilitação sacerdotal de Padre Cícero, maior líder religioso de todo o Nordeste brasileiro, está sendo analisado pelo próprio Papa Francisco. Silenciado e excomungado a mais de um século, o sacerdote atraí, anualmente, milhares de fiéis ao município de Juazeiro do Norte nos períodos de romarias, Cerca de 2 milhões de peregrinos se deslocam ao município, conhecido com a “capital da fé”, durante a fase de romarias, entre os meses de setembro e fevereiro.
As ordens religiosas de Padre Cícero foram suspensas pelo Vaticano no ano de 1894, após supostos milagres terem sido vivenciados pela beata Maria de Araújo, em Juazeiro do Norte. Hóstias consagradas por “Padim Ciço” teriam se transformado em sangue na boca da beata. A discussão em torno da possível reabilitação de padre Cícero surgiu ainda durante o papado de Bento XVI, que demonstrou grande curiosidade e interesse em torno da fé depositada pelos romeiros ao “santo popular”.
Apoio
Na ocasião em que era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o então cardeal Josef Ratzinger apoiou, por varias ocasiões, os estudos realizados por dom Fernando Panico que, posteriormente, se constituíram em farta documentação encaminhada à Roma no processo que pede a reabilitação do sacerdote.
Para a historiadora Edianne Nobre, que realiza pesquisas sobre ambas as personagens, os dois processos encaminhados ao Vaticano possuem peculiaridades que poderão influenciar na decisão a ser adotada pela Santa Sé. Conforme avaliação da pesquisadora, há uma maior possibilidade de acatamento do pedido de beatificação da mártir benigna Cardoso do que em relação a reabilitação de Padre Cícero. “No caso da Benigna, especificamente, todo o processo que resultou no pedido de beatificação foi muito bem elaborado, quase que sem falhas. O processo reconstrói todo o percurso feito por ela dentro do modelo requerido pelo Vaticano”, observou.
Conforme avalia, a beatificação da jovem mártir deve acontecer em um prazo de até cinco anos. “O modelo da Santa Mártir é o que caracteriza o processo de beatificação de Benigna. Esse modelo é o mais comum dentro do processo de escolha dos santos elegidos pelo Vaticano. Acredito que em cinco anos, no máximo, o processo de beatificação dela esteja concluído”, avaliou a historiadora.
No caso de Padre Cícero, Edianne Nobre pondera, no entanto, que a análise em torno do processo de reabilitação poderá acontecer de maneira mais lenta. “A prioridade dessa reabilitação pertence à Igreja local, no caso a Diocese, principalmente, por conta dos milhares de fiéis que frequentam as romarias de Juazeiro do Norte.
O Vaticano possui outras premissas. É preciso lembrar que em relação ao Padre Cícero, houve um processo de desobediência da hierarquia, segundo a visão do Vaticano, à época. Esse pedido de reabilitação não tem previsão para ser concluído, porque reabilitar o padre Cícero seria voltar atrás numa decisão que a própria igreja adotou quando o desabilitou das funções que exercia enquanto religioso”, frisou. A reportagem tentou ouvir o bispo diocesano de Crato, dom Fernando Panico. O contato não foi possível, , por conta do sacerdote estar participando do Seminário Diocesano Pastoral.
Mais informações:
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Fonte: Diário do Nordeste