O recente Sínodo dos Bispos sobre a família expôs duas visões da Igreja, com um setor aberto ao debate e outro que não quer saber de nada. É assim mesmo?
O que eu senti é uma busca fraterna para saber como lidar com problemas familiares pastorais. A família está muito enfraquecida, os jovens não se casam. O que está acontecendo? Depois, quando se casam, já vivendo juntos, acreditamos que com três conferências podemos prepará-los para o casamento. E isso não é suficiente, porque a grande maioria não está consciente do que significa se comprometer para toda a vida. Bento XVI disse duas vezes no último ano, que para a anulação do casamento deve ser levado em conta que fé teve essa pessoa quando se casou. Se fosse uma fé geral, mas sabendo perfeitamente o que era o casamento, e o que o levou a fazer isso. E isso é uma coisa que devemos estudar a fundo para saber como ajudar…
externo, me pergunto quais são as coisas, de dentro da Igreja, que fazem com que os fiéis não se sintam satisfeitos? É a falta de uma aproximação, e o clericalismo. A proximidade é o chamado do católico hoje, a sair e sermos mais próximos das pessoas, de seus problemas, de suas realidades. O clericalismo, e eu disse aos bispos do Celam no Rio de Janeiro, retardou o amadurecimento dos laicos na América Latina. Onde os laicos são mais maduros na América Latina é precisamente a expressão da piedade popular. Mas organizações laicas sempre foram sempre um problema do clericalismo. Eu discuti isso no Evangelii Gaudium (primeira Exortação Apostólica pós-Sinodal escrita pelo Papa Francisco).
A renovação da Igreja a que o senhor se refere desde que foi eleito justamente na Evangelii Gaudium, também mostra que se deve buscar essas ovelhas perdidas e parar essa fuga de fiéis?
Não gosto desta imagem de “fuga” porque é uma imagem ligado ao proselitismo. Não gosto de usar termos ligados ao proselitismo porque não é verdade. Gosto de usar a imagem do hospital de campo: existe muita gente ferida que está esperando que iremos curar. E há de se sair para curar as feridas.
Na semana que vem o senhor voltará a se reunir com o G9, o grupo de nove cardeais consultores que ajudaram no processo de reforma da Cúria. Em 2015 a famosa reforma da Cúria estará pronta?
Não, o processo é lento. A reforma da Cúria leva muito tempo, é a parte mais complexa…
Ou seja, ela não estará pronta em 2015?
Não. Está sendo feita em pequenos passos.
Na volta da Coreia do Sul, ante a uma pergunta, disse que esperava em três anos “ir para a casa do Pai” e muita gente se ficou preocupada com seu estado de saúde, pensando que estava doente ou algo do tipo. Como está? Como se sente?
Tenho me minhas dores e meus sofrimentos da idade. Mas estou nas mãos de Deus e até agora tenho dito um ritmo de trabalho mais ou menos bom.
O Globo
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