O pescador Jamal Mohumad é um sobrevivente. Ele se tornou uma lenda em Bangladesh com um feito raro: foi o único homem que escapou vivo de três episódios distintos de ataques de tigres de bengala.
Mohumad vive na maior região pantanosa do planeta, situada no sul de Bangladesh, na fronteira com a Índia. Segundo especialistas, a área abriga cerca de 500 tigres de bengala – e também mais de um milhão de humanos.
A coexistência dos moradores com os animais resulta em aproximadamente 60 ataques de tigres contra moradores por ano. Em média, metade das vítimas sobrevive.
Em 1997, Mohumed entrou na floresta para pescar e caçar, mas o predador quase acabou virando presa.
“O tigre se lançou sobre mim. Ele cravou as garras na minha perna e me arrastou para a água. Eu lutei sob a água e mergulhei a três metros de profundidade. Então o tigre me largou e eu nadei o mais rápido que pude.”
“Logo depois, cheguei à superfície e não vi o tigre. Nadei mais um pouco, encontrei um barco e pedi ajuda.”
No ataque mais recente, em 2007, ele também estava na floresta – dessa vez para coletar madeira. Em um matagal alto próximo a um rio, ele avistou o tigre tomando sol.
“O tigre estava ao norte do rio e eu estava ao sul. Eu não podia correr. Eu sabia que se o tigre me visse iria me atacar, por isso comecei a rezar.”
Mesmo assim o animal o notou, e disparou em direção a ele. Apavorado, Mohumed ficou onde estava. Ele sabia que se corresse seria morto.
“Como eu já havia sido atacado duas vezes antes, sabia um pouco mais o que fazer. Fiquei parado na frente dele fazendo cara de raiva e muito barulho”, diz.
“Os tigres também têm medo de humanos. Os dois podem se atacar e o confronto é perigoso para ambos.”
O tigre ficou a um metro de distância de Mohumed e rugiu. O homem fez o mesmo.
“Urrei e urrei para o tigre e fiz as caras mais assustadoras que consegui. Fiquei fazendo isso por meia hora, até a minha garganta sangrar.”
A mulher de Mohumad ouviu o barulho e reuniu uma multidão na aldeia.
“Eles vieram fazendo muito barulho e assustaram o tigre. Quando vi meus amigos da vila, desmaiei.”
Tragédias
Diferente de outros habitantes da região de Sundarbans – um vasto delta ao norte da baía de Bengali –, Mohumad continua frequentando os pântanos, mas agora diz ser mais precavido.
Diferente de outros habitantes da região de Sundarbans – um vasto delta ao norte da baía de Bengali –, Mohumad continua frequentando os pântanos, mas agora diz ser mais precavido.
“Eu sempre vejo o tigre nos meus sonhos. Quando vou à floresta tenho medo e sinto que o tigre está me olhando e pode me atacar de novo. Mas tenho que ir à floresta para conseguir comida para os meus filhos.”
“É só por causa deles que sempre volto a encontrar o tigre.”
Nem todos os moradores da região têm a mesma sorte de Mohumad. Algumas áreas aparentemente são mais visadas pelos tigres. Por exemplo, a vila de Joymoni, às margens do rio Pashur, ao lado da floresta, onde foram registrados diversos ataques entre 2006 e 2008.
Em um deles, um tigre atravessou as paredes de bambu de uma cabana no meio da noite e arrebatou uma mulher de 83 anos que dormia. O filho dela, Krisnopodo Mondol, que na época tinha 60 anos, ouviu os gritos da mãe.
“Abri a porta e corri até a cama da minha mãe, só que ela não estava lá. Tudo que eu vi foi a cama vazia e não conseguia encontrá-la em nenhum lugar.”
“Quando abri a porta da varanda, vi a minha mãe à luz da lua. Ela estava gravemente ferida, deitada no chão, com as roupas estraçalhadas ao seu redor”, contou Mondol, chorando, à BBC.
“O tigre a atacou do lado esquerdo da cabeça e quebrou seu crânio. Ela ainda estava respirando, porém inconsciente”, disse, apontando para o retrato da mãe na parede.
“No meu leito de morte, ainda vou lembrar da minha mãe naquela noite. Quando lembro do acidente, não consigo segurar minhas lágrimas. Ainda consigo lembrar do grito dela.”
Logo após o ataque, Mondol e sua mulher se mudaram para uma casa de alvenaria perto de Joymoni, onde ganham a vida secando cocos no jardim – separados do mundo.
Floresta
Grande parte da população local faz uso da floresta e do rio para obter o ganha-pão. As principais atividades são a pesca e a coleta do mel.
Grande parte da população local faz uso da floresta e do rio para obter o ganha-pão. As principais atividades são a pesca e a coleta do mel.
Muitos se aventuram em áreas de proteção ambiental – Sundarbans é um ecossistema declarado patrimônio mundial pela Unesco – para cortar madeira e caçar animais, o que os coloca em contato com os tigres.
Nos últimos meses, pelo menos duas pessoas foram mortas por animais enquanto colhiam caranguejos.
Moradores da região dizem que os tigres locais aparentam ser mais agressivos que os de outras partes do mundo. A explicação para isso não é clara. Muitos argumentam que pode ser devido à presença da água salgada na região.
Mas a explicação mais provável é o esgotamento de seu habitat natural e a escassez de presas. Com mais de um milhão de pessoas vivendo às margens do manguezal, a falta de comida é um problema tanto para os humanos quanto para os tigres.
G1
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