FOTO: CRISANTO TEIXEIRA |
O município de Quixeramobim perdeu na manhã deste sábado mais uma pessoa que faz parte da história do Brasil, Dona Aldamira Fernandes, a primeira prefeita eleita do pais.
Dona Aldamira Guedes Fernandes veio a óbito por volta das 5 horas em Fortaleza. Dona Aldamira tinha sofrido uma queda em sua residência no centro de Quixeramobim onde tinha fraturado o Fêmur e estava em Fortaleza passando por tratamento, onde tinha recentemente passado por uma cirurgia para implante de uma prótese.
Aldamira Guedes Fernandes foi eleita em 1958 prefeita de Quixeramobim com 58% dos votos no dia 12 de outubro. Assumiu em 25 de março de 1959 o Poder Executivo na base do voto livre, outras já tinham assumido, mas por indicação.
Durante uma entrevista ao jornal Diário do Nordeste, a pioneira no cenário político nacional disse que não existiam comícios, não se distribuíam bonés e nem blusas dos candidatos; não havia carros de som fazendo propagandas pelas ruas, cartazes e nem outdoors. Ela explica que só existiam duas amplificadoras de som na cidade. Uma delas, a da Paróquia de Santo Antônio e a outra, do radialista Fenelon Câmara.
O historiador e professor, Marum Simão, destaca em seu livro “Quixeramobim, recompondo a história”, editado em 1996, que Aldamira exerceu o mandado constitucional até 25 de março de 1963. Ela foi de fato e de direito popular, a primeira mulher brasileira a se tornar prefeita através das urnas. Foi eleita pelo Partido Social Democrático(PSD), anos mais tarde transformado no Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Ex-prefeita Aldamira Fernandes janeiro de 2013 - Foto Crisanto Teixeira |
A ex-prefeita de Quixeramobim-Ceará, Aldamira Guedes Fernandes, nascida em 04 de julho de 1923 na cidade de Iguatu-Ceará, filha de Mario Gurgel Guedes e de Alda Teixeira Gurgel, é prima do renomado compositor Humberto Teixeira, ícone do município de Iguatu. Dona Aldamira era viúva do médico e também ex-prefeito de Quixeramobim Joaquim Fernandes. Dona Aldamira será velada no Paço Municipal a partir das 14 horas; às 16 horas o corpo será levado em cortejo para a Igreja Matriz de Santo Antônio, onde será celebrada missa de corpo presente.
Por volta das 17 horas o corpo de Dona Aldamira Fernandes será levado pelo povo até sua ultima morada, no cemitério Nossa Senhora do Carmo, rua Dom Hélio Campos – Centro de Quixeramobim onde será sepultada. O prefeito Cirilo Pimenta decretou luto oficial em Quixeramobim por cinco dias. O deputado federal Mauro Benevides amigo da falecida, utilizou emissora de rádio da cidade para apresentar votos de pesar. Por outro lado o presidente da Ematerce – engenheiro agrônomo José Maria Pimenta e esposa Fátima Menezes Pimenta se associam as manifestações de pesar pelo desaparecimento da ilustre senhora.
Conheça um pouco da história de Dona Aldamira Fernandes
Crisanto Teixeira – Jornalista.
Aldamira Guedes Fernandes’, ex-prefeita de Quixeramobim, eleita pelo voto direto no ano de 1958, tornando-se a primeira mulher a ocupar pela vontade popular, um mandato do poder executivo no Brasil. Antes as eleições eram de forma indireta, ou seja, os prefeitos não eram escolhidos pelo voto direto do eleitor. Vale esclarecer, que anteriormente, no ano de 1928, no estado do Rio Grande do Norte, no município de Lages, também ocorreu fato histórico, porém sem a participação popular, quando o governador nomeou para o cargo de prefeita a senhora Luíza Alzira Soriano Teixeira.
Portanto, o leitor não deve confundir, Dona Aldamira participou da eleição e se tornou prefeita através do processo democrático e a vontade popular, com 59% dos votos válidos, ao contrário da ex-prefeita de Lages no RN, que não recebeu nenhum voto do povo, foi indicada pelo governador daquele estado. Na condição de historiador, para nós é uma imensa alegria destacarmos a importância da homenageada para os dois municípios: Iguatu sua terra natal e Quixeramobim, que a acolheu depois de casar-se com um filho desta terra, onde reside até os dias atuais.
Quixeramobim. Aos 12 de outubro de 1958 a 13ª junta apuradora da Justiça Eleitoral da comarca de Quixeramobim declarava encerrada a apuração dos votos para o cargo majoritário no município sertanejo situado a 206 km de Fortaleza. O extrato da ata geral anunciava Aldamira Guedes Fernandes vencedora do pleito para o Poder Executivo local. Com maioria absoluta de votos, exatos 59%, comemoravam a conquista, sendo empossada aos 25 de março do ano seguinte. No Brasil, pela primeira vez, uma mulher assumia o cargo por meio do voto livre.
Daquela época, a pioneira no cenário político nacional recorda que não existiam comícios, não se distribuíam bonés e nem blusas dos candidatos; não haviam carros de som fazendo propagandas pelas ruas, cartazes e nem outdoors. Ela explica que só existiam duas amplificadoras de som na cidade. Uma delas, a da Paróquia de Santo Antônio e a outra, do radialista Fenelon Câmara. "A gente tinha que conquistar o eleitor era na visita, na conversa, mostrando nossas propostas de trabalho. Era comum a gente pedir o voto às comadres e compadres, assegurando por conta disso, uma boa margem de votos", diz ela.
A ex-prefeita conta ainda que, naquele período, no dia da eleição, era permitido fornecer o transporte e alimentação dos eleitores. Dependendo da ocasião se matava um ou dois bois para o preparo da merenda e do almoço. O quintal dela ficava cheio de panelões no fogo fazendo a comida que era generosamente distribuída. "Nós os tratávamos muito bem. Era assim que acontecia naquele tempo, uma prática adotada por todos os candidatos. Por ser uma época de grandes dificuldades, isso se tornava um ato de apoio ao eleitor", lembra.
Época de Ouro
Naquela época de ouro " fim da década de 50 e início dos anos 60 " a capital federal mudava do Rio de Janeiro para Brasília. O Brasil vivia um período de democracia formal. A bossa-nova, o teatro de arena e o cinema novo se destacavam no Sudeste. Ainda havia forte resistência à emancipação feminina. O machismo imperava. Todavia, com o apoio do marido, o médico Joaquim Fernandes " já falecido, que por duas vezes já havia sido prefeito deste município ", "Dona Aldamira", como era tratada por seu povo, jamais enfrentou discriminação na cidade.
Acerca das atuais disputas, ela diz ser favorável à destinação de verbas públicas para o financiamento das campanhas eleitorais. Justifica a medida como alternativa para evitar que os candidatos de grande poder econômico levem vantagem em relação aos que não contam com o artifício monetário. Ela vê com preocupação a questão da influência financeira no pleito eleitoral, principalmente quando candidatos possuem ótimas propostas de trabalho, mas poucos recursos. Com a desigualdade fica muito difícil serem eleitos.
Crisanto Teixeira – Jornalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário