Agricultor João Batista da Rocha já pegou sua semente - Foto Crisanto Teixeira |
Depois de um intervalo de sete meses, as chuvas voltam a molhar o sertão central do estado do Ceará, uma das áreas mais secas do semiárido nordestino. O retorno das chuvas, trouxe também a esperança para o homem do campo, que amarga prejuízos, fome e sede com a seca de 2012, considerada pelos estudiosos como a mais severa dos últimos cinquenta anos. O agricultor, independente da idade que tenha, quando caem as primeiras chuvas e molha a terra árida, se anima criando a esperança da colheita de uma safra, que venha a suprir suas necessidades pra os próximos meses. Antes, o próprio agricultor fazia sua banco de sementes, guardando as de melhor qualidade para o plantio no ano seguinte.
Com a finalidade de aumentar a produção, além de obter um melhor rendimento em menor espaço de tempo e condições pluviométricas menos favoráveis, as políticas públicas para o setor rural no estado do Ceará, implementou no final do século passado, programas de assistência técnica e o fornecimento das sementes ao agricultor familiar no estado no Ceará. Esse programa já passou por várias denominações; começou como 'Arrancada da Produção' e hoje é tratado como “Hora de Plantar”, que entrega a cada inicio de ano, sementes ao agricultor familiar assistido pela Ematerce e que, se o ano for de boa produção ele paga um valor simbólico ao governo; porém, se for seca, como ocorreu ano passado, os mesmos são dispensados desse pagamento.
Hoje, segunda-feira, dia 25, a Ematerce – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará, escritório regional de Quixeramobim está concluindo a primeira fase da entrega das sementes de milho, feijão, sorgo forrageiro, mamona e palma forrageira aos agricultores da região do sertão central, que compreende os municípios de: Quixeramobim, Quixadá, Banabuiú, Choró, Ibaretama, Senador Pompeu, Milhã, Pedra Branca, Mombaça, Piquet Carneiro, Deputado Irapuan Pinheiro e Solonópole. No armazém regional de Quixeramobim foram estocadas esse ano, cerca de 255 toneladas de sementes selecionadas, afora 131 mil raquetes de palma forrageira.
O município de Quixeramobim é o que possui na região, o maior contingente de agricultores familiares, em torno de 2.340 aptos a participarem do programa governamental. De acordo com o gerente regional da Ematerce Albanir Rangel Rolim, a entrega das sementes está sendo feita logo no inicio da estação chuvosa, mas que, os agricultores devem aguardar as condições propicias de umidade do solo para que as mesmas seja enterradas, assim evitando a perca das mesmas e consequentemente o replantio. A Ematerce vem também alertando aos agricultores que participam do programa, para evitarem dar outro destino as sementes, como a venda para terceiros, ou até mesmo como ração animal. “O agricultor não deve dar outro destino as sementes, devendo assim, fortalecer o programa, pois o estado do Ceará é o único no país que adota essa política pública de incentivo ao homem do campo”, destaca Albanir Rangel.
Agricultores receberam a semente e agora pedem chuva
Os agricultores que participam do Hora de Plantar em Quixeramobim, já de posse das sementes, agora apelam para que as chuvas caídas no inicio do ano continuem a molhar a terra. De acordo com a Ematerce, na cidade de Quixeramobim os índices de pluviometria estão abaixo do ocorrido em 2012, que totalizaram em janeiro e fevereiro 98,6 mm. Em 2013 - janeiro e fevereiro (até o dia 22), choveu 85,9 mm. Em todo ano de 2012, quando foi verificada impiedosa seca, chovem em Quixeramobim apenas 270,2 milímetros. O agricultor Antônio Alaíres da Rocha, 37 anos casado, residente na Fazenda Santa Isabel não perdeu tempo, assim que as chuvas molharam a terra veio logo receber as sementes. Conta Antônio que numa área de três hectares vai plantar quarenta quilos de milho hibrido, e que será destinado a alimentação de trinta cabeças de gado, que conseguiu salvar da seca ano passado. Na Fazenda Tingui o agricultor Antônio Vanderlei Inácio de Sousa, preparou a terra utilizando a tração animal, uma prática usada desde a idade média. Conta Antônio de Sousa que prefere aradar suas terras com a tração animal, pois assim não vai depender de trator, além de estar praticando uma atividade que aprendeu com seus pais para preservar a terra.
Agricultora Antônio Isaura residente na Oiticica recebeu 40 Kg de milho hibrido - Foto Crisanto Teixeira |
Enquanto isso a agricultora Antônio Isaura de Sousa, 47 anos, solteira, residente na Fazenda Oiticica, pelo segundo ano pega as sementes em Quixeramobim. Conta a agricultora, que ano passado perdeu tudo que plantou, mas que não perdeu a esperança, e esse ano levou quarenta quilos de sementes de milho, que segundo a agricultora, a produção será para alimentar sua criação de galinhas caipira e pequenos animais, como cabras e ovelhas. Quem também disse estar otimista com a possibilidade de colher uma boa safra foi o agricultor João Batista da Rocha, 56 anos, casado, residente na Fazenda Castelo, que recebeu do programa vinte quilos de milho e vinte de feijão. “Ano passado por conta da seca me vi obrigado a vender minhas cinco vaquinhas, para não vê-las morrer de fome no meu terreiro; estou otimista esse ano, e vou arriscar plantando milho, e com as economias que fiz vou comprar outras vacas e assim, continuar na atividade de pecuária, além de também ver se produzo o feijão nosso de cada dia, porque comprar feijão de sete e até oito reais o quilo, isso é um absurdo”, disse esperançoso João Batista.
Tá faltando feijão
De acordo com Zé Maria Pimenta está faltando semente de feijão para comprar - Foto Crisanto Teixeira |
Um dos produtos que compõem a lista das sementes entregues aos agricultores, o feijão Vigna (também conhecido como feijão de corda), por não ter em quantidade suficiente está faltando nos armazéns da Ematerce. De acordo com o presidente da Ematerce – engrº agrº José Maria Pimenta Lima, o governo não encontrou para comparar, as quantidades necessárias de feijão ao programa 'Hora de Plantar', isso por conta da seca. Explica Pimenta, que por conta do preço, os produtores de sementes selecionadas preferem vender seus produtos no mercado consumidor, ao preço de R$ 7,00 (Sete Reais) o quilo, enquanto para o governo existem preços já acordados, ou seja; com a germinação variando entre 80 à 85% o preço é de R$ 5,00 o kg; com a germinação variando entre 86 à 90% o kg é comprado à R$ 5,20 e se a germinação atingir acima de 90% o preço máximo de compra do feijão é de R$ 5,40 o quilo. “O produtor que vender seu feijão para o governo vai estar perdendo dinheiro, por conta dessa lei da oferta e da procura; tem outro agravante, tradicionalmente e culturalmente essa variedade de feijão só se encontra no nordeste, exatamente onde se instalou a seca, dai não ser encontrado em canto nenhum o produto para a compra governamental”, explicou Zé Maria Pimenta.
Favor quem usar parte, ou o todo dessa reportagem citar a fonte com os respectivos créditos.
Crisanto Teixeira- Jornalista DRT 2156
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