Desde que o BPRaio foi instalado em Quixadá, praticamente todos nós já escutamos alguma história sobre suas abordagens. Eu escutei várias e, algumas delas, nada boas. Há, é claro, quem aumente as coisas, inventando fatos improcedentes.
Ontem, pela primeira vez, fui abordado pelos militares do BPRaio e tive a oportunidade de observar de perto todo o procedimento adotado por eles. Prestar atenção em como as coisas acontecem na cidade onde moro é parte fundamental do meu trabalho que, dentre outras coisas, envolve opinar sobre uma diversidade de assuntos.
Pois bem, deixem-me contar o que aconteceu e o que foi que percebi.
Era por volta de 22 horas de ontem, domingo, 26, quando eu e meu colega Renato Evillin – que agora trabalha no site Monólitos Post – recebemos a ligação de uma pessoa amiga lá do Bairro Campo Novo pedindo carona para vir para o Centro da cidade. Fomos lá buscá-la.
Seguimos pela via principal e, a certa altura, já perto da praça do Bairro, entramos à direita. Seguimos mais um pouco e entramos à direita novamente. Estávamos quase chegando quando os faróis e as sirenes das motocicletas usadas pelo BPRaio foram ligados. Paramos imediatamente.
Ouvimos, então, a ordem para desligarmos o veículo e descermos do carro com as mãos para cima. Foi o que fizemos. Apesar de um certo nervosismo natural, comecei imediatamente a trabalhar e tentei observar tudo o máximo que pude. Este é o tipo de experiência que pode ajudar um comunicador a formar uma opinião realística sobre as abordagens do BPRaio e, desta forma, saber lidar com os factoides que algumas pessoas criam sobre elas.Ficamos ao lado da porta e ouvimos a ordem para irmos para trás do carro, perto do bagageiro. Daí comecei a perceber os movimentos estratégicos de cerco que eles fazem nos locais de revista. Evidentemente, eles criam uma situação em que podem tanto render com certa facilidade quem está sendo revistado, quanto defender o grupo de policiais de possíveis ataques exteriores de elementos que queiram, por alguma razão, defender com violência quem estiver sendo revistado.
Eu estava com as mãos na cabeça, como havia sido ordenado, mas, antes de um deles se aproximar para fazer a revista, pediu que eu entrelaçasse os dedos sobre a cabeça. Todo detalhe, afinal, pode fazer diferença na hora de lidar com uma ameaça. Achei interessante.
Enquanto procediam com a revista – aliás, nada agressiva, como alguns sugerem -, começaram a fazer uma série de perguntas: Onde você mora? Você já foi preso alguma vez? De quem é este carro? O que veio fazer aqui? Em todos os momentos, fomos chamados respeitosamente de cidadãos. Sim, havia armas de prontidão para lidar com qualquer reação de agressividade que tivéssemos, porém, isto é natural naquela situação e não significa desrespeito à cidadania, como outros lamentavelmente dão a entender.
O carro foi completamente revistado. Pela conversa de um deles no rádio, parecia que estavam de olho num Siena de cor branca. O carro do meu colega é exatamente um Siena, mas de cor prata. A certa altura olhei para o Renato e fiquei preocupado. Ele estava meio verde, meio vermelho, mudando gradualmente de tonalidades azuis para rosas, cinzas e laranjas. Até bateu uma vontade de rir, mas aquela não era a ocasião e eu, talvez, estivesse do mesmo jeito que ele.Pois bem, nossos documentos e o documento do carro foram verificados e nada constava contra nós. Somos, de fato, cidadãos de bem e fomos rapidamente liberados. É claro que algumas pessoas saíram para a calcada apenas para ver a atuação do BPRaio. Houve, confesso, um certo constrangimento por isto, mas nada demais, e nada que deprecie o trabalho dos militares.
Agora, deixem-me dizer uma coisa que considero muito importante.
Temos que valorizar o trabalho desse pessoal e respeitá-lo muito mais do que já o fazemos. Depois que tudo passou eu fiquei pensando como seria se eu fosse um bandido, se estivesse armado e se estivesse sem nenhuma disposição para ser preso. O que teria acontecido? Teria tentado uma fuga? Teria trocado tiros com eles? Não sei. Há bandido capaz de tudo, não é verdade? E sabe o que isso significa? Deixe eu dizer.
Significa que esses homens que compõem o BPRaio – e a polícia de modo geral -, saem todos os dias de casa para fazer um tipo de trabalho que tem muitas chances de encontrar pela frente os piores tipos de pessoas. Sabe o que eles estão arriscando ali? A própria vida, a convivência com a família, a segurança, os próprios sonhos, tudo. Estão arriscando tudo. E o fazem pelo que? Pela paz social, pela nossa segurança.
Enquanto eu – se fosse um bandido -, poderia me ferir ou morrer se esboçasse uma reação violenta, eles são trabalhadores que poderiam se ferir ou morrer na lida com um bandido. E, de fato, quantas vezes isso já aconteceu! Todo o mundo sabe que o número de policiais que morrem em serviço no Brasil é revoltante. Quando se diz que estes homens e mulheres de farda são guerreiros e estão numa guerra constante, isto não é uma hipérbole. Trata-se de uma verdade.
Portanto, conto este relato para agradecer ao BPRaio pelo formidável trabalho que estão fazendo em Quixadá. Em nenhum momento me senti ameaçado ou tive dúvidas de que seríamos rapidamente liberados. Observando a maneia como atuaram, pude constatar que houve um treinamento excepcional para deixá-los prontos para fazerem aquele trabalho. Senti-me mais seguro por morar numa cidade em que este tipo de força militar existe. Torço que as abordagens aconteçam sempre, em todos os bairros e com frequência.
É válido, ainda, constatar que os crimes de homicídio em Quixadá e região não podem ser usados para desqualificar o trabalho dos militares. Crimes deste tipo – que geralmente envolvem o tráfico de drogas, dívidas e ódio -, dificilmente podem ser evitados. Mas eu posso imaginar que caos seria se as nossas forças de segurança não existissem! O caso recente da paralisação lá no Espírito Santo é uma prova de que a polícia não existe para transformar nossas cidades em paraísos, mas para evitar que elas se transformem em verdadeiros infernos.
Finalmente, sinto-me bastante à vontade para dizer ao BPRaio e à PM como um todo: Muito obrigado pelo que fazem por mim, pela minha família e por toda a sociedade. Haverá um dia em que o trabalho de vocês ainda será reconhecido como deveria!
Gooldemberg Saraiva é editor do Diário de Quixadá.
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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017
Fui abordado pelo Raio em Quixadá – Sabe o que percebi?
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