Em 1924, o brasileiro Carlos Drummond de Andrade escreveu um poema chamado “No Meio do Caminho”. O poema de Drummond, que ainda hoje muitos acham estranho e esquisito, pode ser considerado parte do início do modernismo poético. Em certa parte do texto, diz Drummond, “tinha uma pedra no meio do caminho”.
Ocorre que este poema de Drummond sempre me lembra um político quixadaense. É um rapaz bom, até onde sei. Nunca dei importância às conversas que já me trouxeram afirmando o contrário. Nem senti, até agora, nenhuma vontade de confirmá-las.
Mas o poema tem precisão cirúrgica se usado para descrever a biografia política do dito mancebo finório, para quem há sempre, entre suas tentativas de crescimento e o êxito nisto, “uma pedra no meio do caminho”. Uma pedra pesada, acrescente-se. Talvez até irremovível, pelo menos enquanto o tal continuar agindo feito acataléptico.
Esta “pedra no meio do caminho”, na vida do referido arreliado, tem nome, cor, número e fala.
Desditoso em suas tentativas medíocres de remover a pedra no meio do caminho, o tal político absorve, cada dia mais, e de forma surpreendentemente eficaz, a própria aparência da pedra que lhe impede a passagem. Rende-se continuamente a ela. Curva-se insistentemente para a pedra e, como resultado, desiste de um caminho melhor. Vez após vez, fraco. Vez após vez, humilhado. Vez após vez, obrigado a não continuar o percurso. Vez após vez, colocado forçosamente no lugar onde não queria ficar. Inapto, evidentemente, para o caminhar que parece desejar.
E se você acha que vou dizer o nome da figurinha antes de terminar o texto, que seja minha negativa de fazê-lo uma pedra no meio do caminho da sua curiosidade. Quem quiser que o diga. Que o descubra. Nem difícil é a tarefa. Basta olhar direito para ver que a pedra está lá, junto ao néscio antes dela.
Exercício mais valioso, no entanto, é o ato de repensar a confiança em quem rendido está a uma pedra no meio do caminho.
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