Uma publicação postada na página “Galinha por elas“, no Facebook, explicou da seguinte forma a faixa colocada na Pedra da Galinha Choca com os dizeres “30 FILHOS DO PATRIARCADO”:
No último domingo, 29 de maio de 2016, um pequeno,
porém bravo e engajado grupo de escaladoras e escaladores do Ceará fizeram uma intervenção artística e política na Pedra da Galinha Choca, ícone do Sertão Central do Estado do Ceará. A famosa rocha representa uma mãe que cuida e prepara suas filhas e filhos para o mundo, mas quando abre as asas, será que o mundo está preparado para acolher essa ninhada?
Galinha por Elas: não foram 30 contra uma, foram 30 contra todas!, foi uma intervenção performática, efêmera e reversível: uma faixa de 30 metros de altura foi fixada utilizando os cristais, fissuras e reentrâncias existentes na própria Galinha Choca. A ação foi uma resposta ao grito engasgado na nossa garganta após a notícia do estupro de uma mulher no Rio de Janeiro por 30 homens que ainda se vangloriavam disso nas mídias sociais. Estuprar uma mulher é estuprar todas elas!
Sim, o estupro é abominável, abala o corpo e esmigalha o espírito. Em 2014, foram mais de 50.300 registros de mulheres estupradas no país – e ainda tem as que não prestaram queixa. Isso é revoltante, não há dúvidas. Junto com o feminicídio (quase 2,5 mil mulheres foram assassinadas em 2013 por parceiros e ex-parceiros), são os piores pesadelos das mulheres.
Gostaríamos, todavia, de lembrar que o estupro, assim como o assassinato de mulheres por ciúmes e possessividade, não é feito por homens monstruosos ou que estão fora das suas perfeitas faculdades mentais. Infelizmente, tanto quanto os pequenos atos cotidianos, os estupradores são moldados pela sociedade machista na qual todos estamos inseridos, por isso dizemos: os 30 estupradores são filhos saudáveis do patriarcado.
O patriarcado é um conjunto de valores que organiza a sociedade e cria condições para beneficiar o homem em detrimento da mulher. Parece um conceito atrasado para os nossos dias, nos quais as mulheres desempenham tantos papéis importantes na sociedade. Mas, infelizmente, é o que as mulheres vivenciam cotidianamente, com maior ou menor intensidade, e de forma direta, como a submissão diante de um pai duro, a possessividade de um marido ciumento ou os mais horrendos estupros e assassinatos.
Mas acreditamos que a forma indireta do patriarcado se manifestar no nosso cotidiano é, talvez, a mais complicada de ser enfrentada por ser muito difícil de ser reconhecida. E ela vai se entranhando na nossa cultura sem sequer permitir que homens e mulheres percebam as facetas no machismo de cada dia na nossa fala, na nossa música, na nossa piada de bar, no nosso esporte, na nossa casa.
As maneiras veladas de submeter e de tratar as mulheres como objetos de desejo alheios à sua própria vontade são pequenas contribuições no processo de ‘formação’ de estupradores e assassinos de mulheres. E para piorar, muitos ainda julgam denúncias de machismo como bobagem e exagero de feministas.
Por isso gritamos:
Não foi contra uma, foi contra todas! Abaixo o patriarcado! Machistas não passarão!
Por todas elas.
EM TEMPO…
Solidarizo-me com o desejo das mulheres por respeito e igualdade plena de oportunidades e direitos. Ações de afirmação deste tipo contribuem significativamente para quebrar a sensação de que é normal este ambiente de machismo que, infelizmente, ainda domina a sociedade. Não há normalidade quando as mulheres, sob qualquer pretexto, são tratadas como inferiores.
Esta cultura patriarcal, onde a mulher é relegada a um papel secundário – como se por qualquer motivo fosse socialmente subordinada ao sexo oposto -, é, sem dúvidas, um terreno fértil onde outra cultura, a cultura do estupro, encontra base para se desenvolver. O patriarcado precisa, de fato, ser superado. Que este gesto simbólico de extrema importância inspire a todas as mulheres do Sertão Central a se posicionarem firmemente diante das injustiças que sofrem em face do machismo descarado a que estão expostas.
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terça-feira, 31 de maio de 2016
Conheça a explicação para a faixa colocada na Pedra da Galinha Choca, em Quixadá
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