Sair do Interior para
cidades-polo sempre foi um movimento comum no Ceará, mas a seca piorou a
situação. Em um ano, cerca de 31 mil pessoas deixaram de viver na zona
rural do Estado e passaram para zonas urbanas
Cerca de 31 mil pessoas deixaram de
viver na zona rural do Ceará entre 2013 e 2014. Deficiência no acesso a
serviços como Saúde e Educação e falta de emprego, que historicamente
contribuem para o movimento migratório, agora são agravados pela seca. O
levantamento foi feito com base na Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), divulgada em novembro.
Diferentemente de outros períodos,
quando a população saía do Estado, a movimentação agora se dá
especialmente dentro do Ceará, detalha Francisco José Moreira Lopes,
chefe da Unidade Estadual do IBGE. Além da Região Metropolitana de
Fortaleza, municípios-polo do Interior são os que recebem essas pessoas.
“A população total do município não muda tanto assim, porque as pessoas
vão da zona rural para a zona urbana”, explica Nicolas Fabre, assessor
de Desenvolvimento Rural da Associação dos Municípios do Estado do Ceará
(Aprece).
Quando a migração acontece de forma
tão intensa, há dois efeitos direitos e de curto prazo. O primeiro,
aponta Fabre, é o envelhecimento da população do campo. “Quem fica são
as pessoas com idade de se aposentar. Os filhos e netos ou estão na sede
do município ou em Fortaleza”. O segundo é o aumento da pobreza nas
cidades de destino. A despeito da tendência geral do Estado, que é de
queda, a desigualdade nos centros urbanos aumentou de 2013 a 2014.
Indicadores sociais
Quando
for divulgada a comparação com 2015 a situação deverá ser ainda mais
grave. Como resultado, indicadores sociais — até então em sequência
positiva — começam a ter piora. “No cálculo da desigualdade naquela
cidade, você está incorporando uma população a mais que não tem renda”,
frisa Flávio Ataliba, diretor-geral do Instituto de Pesquisa e
Estratégia Econômica do Ceará (Ipece). Na zona rural, essa população
vive especialmente de agricultura de subsistência.
Sem
conseguir inserção no mercado de trabalho dessas cidades, os jovens que
chegam começam a dar corpo a problemas de economia paralela, ressalta
Fabre. Assim, agravam-se tráfico de drogas e prostituição, por exemplo.
No
ano passado, a Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate
à Fome de Fortaleza (Setra) realizou o primeiro Censo e Pesquisa
Municipal sobre População em Situação de Rua. Como resultado, segundo
nota do órgão, foi observado que 20% das pessoas que vivem nas ruas em
Fortaleza tiveram como último local de moradia o interior do Estado.
Apesar de não ser especificada a causa que trouxe essas pessoas para
Fortaleza, a seca pode ser uma delas.
O POVO Online
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