O Açude Arrojado Lisboa (Banabuiú) atingiu o seu limite
FOTO: ALEX PIMENTEL
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Conforme o funcionário do órgão Federal, a decisão foi tomada, na última semana, pelo Comitê de Gestão das Sub-bacias do Vale do Jaguaribe, incluindo a do Banabuiú. Para ele, o terceiro maior açude do Ceará chegou ao seu limite. Está apenas com 1,29% da capacidade. Atualmente a carga hídrica disponível será suficiente apenas para abastecer a cidade de Banabuiú, explicou.As águas do Açude Arrojado Lisboa (Banabuiú) deixaram de correr pelo Rio Banabuiú. A válvula de dispersão da represa administrada pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) foi praticamente fechada. A redução foi de 7,5m³/s para 107 l/s, deixando o afluente totalmente seco logo abaixo da jusante. Segundo o administrador do Arrojado Lisboa, Ariston Queiroz, a última vez que essa situação ocorreu foi há 15 anos.
A última vez em que o Arrojado Lisboa atingiu uma situação tão crítica foi no período de 1997 a 2001. Três anos depois, o reservatório voltou a acumular água, e, em 2004, sangrou. Todavia, a situação atual é bem diferente.
O Fogareiro, em Quixeramobim está com apenas 0,76% do volume, o equivalente a 900 mil/m³; o Serafim Dias, em Mombaça, tem praticamente a mesma quantidade, representando 2,5% do seu volume e o Patu, em Senador Pompeu, com situação um pouco melhor, cerca de 13% do seu volume, 9,2 milhões de metros cúbicos. Somente quando sangrarem, a represa federal, inaugurada em 1966, voltará a receber novamente considerável volume de água.
Na avaliação do servidor do Dnocs, que monitora o açude desde 1998, a decisão do Comitê foi tardia, consequência de uma decisão errada tomada pelo colegiado representado por cinco comitês do Vale do Jaguaribe, incluindo o da Sub-bacia do Banabuiú. Em 2014, resolveu deixar a válvula aberta por um período de 90 dias, o suficiente para soltar rio abaixo 28 milhões de m³ de água. Naquela época, a situação era menos crítica em relação à atual, mesmo assim a água correu com abundância. Se não ocorresse o desperdício, hoje estaria com 48 milhões de m³, ressaltou o servidor do Dnocs.
No início de fevereiro o prefeito de Banabuiú, Veridiano Sales, havia ingressado com ação na Justiça para interromper a vazão de 7,8 m/s. Até a última decisão do Comitê do Vale do Jaguaribe, o pedido ainda não tinha sido atendido. Ele alertava para o problema e, principalmente, para os prejuízos às comunidades de pescadores e ribeirinhos do açude, mais afetadas com a redução do volume no Açude. Agora, os barraqueiros estabelecidos na jusante, onde funciona o balneário da cidade, também estão sendo prejudicados. Somente três meses depois, os membros do Comitê reconheceram definitivamente a gravidade do problema.
Além de Banabuiú, os municípios de Morada Nova e Ibicuitinga estão sendo afetados. Conforme o gerente da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) na Bacia do Banabuiú, Luís Pimentel, com a redução do volume de água na válvula do Arrojado Lisboa, Morada Nova passará a receber água por meio de uma adutora de montagem rápida interligada ao Eixão das Águas. A adutora já está funcionado. A população de Ibicuitinga, passa a contar com poços profundos. Quatro deles já foram perfurados.
Caso a vazão dos poços não seja suficiente para abastecer a área urbana, onde estão concentrados cerca de 5.000 habitantes, mais quatro poços serão perfurados. Outro plano de emergência também já foi traçado. Em último caso, o Município poderá contar com uma adutora de montagem rápida, também interligada ao Eixão das Águas. Além da sede, o distrito de Juazeiro de Baixo passará a contar com abastecimento da adutora. As demais comunidades serão abastecidas por carros-pipa. Mas uma nova deliberação será tomada na reunião programada para esta terça-feira.
Situação preocupante
Este é o último mês da quadra chuvosa no Ceará e o volume dos reservatórios permanece preocupante. No Estado, a média é de apenas 20,3%, a menor dos últimos dez anos. E as chuvas permanecem abaixo da média. Em abril passado, choveu menos 34,7% da média do período. Dos 151 açudes monitorados pela Cogerh, dois estão sagrando. Três reservatórios permanecem com volume acima de 90%; e 113 abaixo de 30%.
Das 12 bacias hidrográficas, quatro estão em situação muito crítica; outras quatro, crítica; e, no restante, a posição é de alerta. “O volume dos açudes é preocupante, não houve recarga significativa nos médios e grandes reservatórios”, observou o meteorologista da Funceme, Raul Fritz. “Para este mês de maio, a média de chuva é menos de 50% em relação a abril e não há mais o que se esperar, a não ser que ocorra um evento excepcional”, completou.
De acordo com a Funceme, no trimestre de fevereiro a abril, as chuvas ficaram 23,1% abaixo do esperado para o período, que é de 516,6 mm. Foram registrados, em média, no Estado, apenas 398,2 mm. No ano passado, no período, foi observado um déficit um pouco mais elevado, 27,5%, e em 2013, o quadro foi mais grave: as precipitações ficaram 47,4% abaixo da média.
O Ceará vivencia, portanto, o quarto ano de estiagem, com chuvas abaixo da média, irregulares no tempo e na distribuição geográfica. A previsão da Funceme para os meses de maio, junho e julho é que as chuvas permaneçam dentro da normalidade. Mas, nesse período, o esperado são reduzidas precipitações. “O atual mês é o último da quadra chuvosa e, em junho e julho, as precipitações são reduzidas”, observa Fritz. Dessa forma, o cenário atual, que é muito crítico, tende a permanecer.
Os dados da Cogerh mostram que apenas a barragem dos Caldeirões, em Saboeiro, e o açude Gavião, em Pacatuba, estão sangrando. Outros três permanecem com volume acima de 90%: Tijuquinha, em Baturité; Gameleira, em Itapipoca; e a Barragem do Batalhão, em Crateús.
Os técnicos do governo acompanham diariamente a evolução no nível dos reservatórios. Em março passado, o volume médio acumulado, nas 12 bacias hidrográficas, era de 19,2%. Atualmente é de 20,3%. No início deste ano, os açudes acumulavam em média 20,95% e, em abril de 2014, era de 27,5%.
No início de abril passado, a bacia hidrográfica em situação mais crítica era a dos Sertões de Crateús que acumulava 4,51%. Agora está com 5,13%. No início deste ano, acumulava 0,6%. A bacia do Baixo Jaguaribe está com 1,68%. Perdeu 0,2% em relação ao mês anterior. A do Curu passou de 3,0% para 4,98%.
O quadro também permanece grave na Bacia do Banabuiú que apresentava há um mês um volume médio de 5,68% e caiu para 5,30%. O quadro mais confortável permanece na Bacia do Alto Jaguaribe que tem volume médio de 37,78%, mas, em abril passado, era de 38,20%. Apresentou perda de volume.
A Bacia do Salgado acumula 23,26% e a do Médio Jaguaribe, 20,33%. Ambas perderam volume em abril. A Bacia do Coreaú que estava com 24,81% saltou para 36,55%. A do Litoral também deu um salto importante de 15,17% para 41,67%. As Bacias Metropolitanas passaram de 27,29% para 31,51% e a da Ibiapaba passou de 23,22% para 24,60%. A do Acaraú aumentou de 13,86% para 14,45%.
Restrição
A Cogerh promove, nas cidades do Interior, reuniões de monitoramente e alocação de água. Ao fim da quadra chuvosa, será feita uma avaliação final e adotadas medidas de restrição do uso da água para irrigação. A prioridade será o consumo humano. O assistente técnico da Cogerh, Gianni Lima, reafirmou que a maioria dos reservatórios dispõe de água até o fim de 2016.
Os técnicos do governo ainda aguardam o desfecho da quadra chuvosa, que ocorre neste mês de maio, para anunciar decisões sobre a redução de liberação de água para áreas de produção agrícola irrigada. Na prática, já se sabe que a tendência é de perda de volume dos açudes a partir do período atual.
A situação é preocupante. No fim da quadra chuvosa passada, o volume acumulado nos açudes monitorados pela Cogerh era de 32,21%. Agora é de apenas 20,3%. A julgar pelo índice histórico para maio, certamente, não haverá recarga significativa nos próximos dias. A crise no abastecimento de água já afeta várias cidades com medidas de rodízio e o governo do Estado ampliou o programa de perfuração de poços profundos nos centros urbanos e vilas rurais.
Atualmente, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Ceará atende a 22 municípios com a Operação Carro-Pipa, ainda utilizando o restante dos R$ 17 milhões aplicados em ações emergenciais. A distribuição de água por carros-pipa é feita em sua maioria pelo Exército.
Mais informações:
Funceme – Fone: (85) 3101-1117
Cogerh – Fone: (85) 3218-7024
Coordenadoria de Defesa Civil
Fone: (85) 3101-4619
Cogerh – Fone: (85) 3218-7024
Coordenadoria de Defesa Civil
Fone: (85) 3101-4619
Diário do Nordeste
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