Em tempos de seca, o armazenamento de água da chuva em reservatórios domésticos pode ser uma medida para diminuir os transtornos causados pelo desabastecimento. Entretanto, o hábito de acumular o líquido em casa pode representar um perigo à saúde pública, caso não sejam tomados alguns cuidados. Segundo o Ministério da Saúde, 76,5% dos focos de reprodução do inseto na região Nordeste encontram-se em tanques residenciais utilizados para guardar água. A informação é do último Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa).
Em 2015 foram notificados no Ceará 5.847 casos suspeitos de dengue. Dos casos notificados, foram confirmados 1.560 em 64 municípios. Entre estes, foram constatados 44 casos graves. Até agora, uma pessoa morreu vítima da doença.
Embora não haja um índice específico para o Ceará, em relação aos principais focos de proliferação do mosquito, a situação no Estado tende a ser similar a das demais unidades federativas da região, de acordo com o coordenador de Promoção e Proteção à Saúde da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Márcio Garcia. “As características sociais e demográficas são semelhantes”, explica. Na visão do profissional, os números de 2015 chamam a atenção, e já se estima que a estatística da doença neste ano supere a de 2014.
Cuidados
Para combater a disseminação do mosquito, basta que sejam tomadas algumas medidas simples em casa. No que diz respeito ao armazenamento de água, é importante que o depósito seja completamente vedado, de preferência com uma tela, para evitar que o inseto entre em contato com a parte interior do recipiente. A tela tem que ser bem amarrada nas laterais, de modo a evitar qualquer brecha. Segundo Márcio Garcia, as tampas não são consideradas itens eficientes na vedação dos reservatórios, visto que não impedem completamente a entrada do mosquito.
Outra ação fundamental para evitar o foco de dengue é a lavagem periódica do recipiente de armazenamento. O asseio tem que ser feito semanalmente ou, no máximo, de dez em dez dias. No procedimento, é importante que as paredes sejam bem esfregadas com escova ou palha de aço. Os ovos da fêmea do mosquito são depositados nas bordas do criadouro, bem próximo à superfície da água, porém não diretamente sobre o líquido. Daí a importância da limpeza.
Mesmo recipientes vazios podem servir como berço dos insetos. Caso a fêmea tenha depositado ovos no tempo em que o reservatório estava cheio, o desenvolvimento do mosquito tem continuidade após o reabastecimento do tanque. “Os ovos do Aedes aegypti são resistentes e ficam viáveis por vários meses, mesmo em recipientes secos. É só entrar em contato novamente com a água que volta a se desenvolver, continuando o ciclo do mosquito. Só com a lavagem adequada se pode eliminar os ovos”, orienta o coordenador de Promoção e Proteção à Saúde da Sesa.
Em condições ambientais favoráveis, após a eclosão do ovo, o desenvolvimento do mosquito até a forma adulta leva cerca de dez dias. Além da vedação e da lavagem de tanques, é preciso evitar que água de chuva se acumule sobre lajes e calhas, guardar garrafas sempre com a boca virada para baixo e eliminar adequadamente o lixo que possa acumular água, como pneus velhos, latas, recipientes plásticos, tampas de garrafas e copos descartáveis.
Na residência do comerciante Edilon Anselmo Cavalcante, no bairro Quintino Cunha, o problema de falta d’água é constante. Conforme relata, o abastecimento pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) é inconstante, e dois dos três poços que cavou no quintal de casa já secaram. Sendo assim, uma das medidas para garantir água para o consumo é o armazenamento do que vem da chuva.
Edilon utiliza uma caixa d’água de 500 litros no chão e explica que utiliza o líquido para tomar banho, lavar louças e roupas. O morador garante que mantém o recipiente sempre vedado com um pano, que fica amarrado pelas laterais. “Eu cuido, mas, tem vizinhos que não fazem o mesmo, e a dengue continua se espalhando”, aponta o comerciante.
Conforme lembra Márcio Garcia, o período chuvoso é o mais grave do ano, entretanto, a dengue acontece também em outras épocas e, embora ocorra em menor número, pode vir da forma grave e matar. “O combate acontece no dia a dia. Se cada pessoa cuidar da sua casa uma vez por semana, fazendo vistoria no interior e no exterior do imóvel, é o suficiente. Às vezes, a dengue tende a ser banalizada, mas é uma doença importantíssima, que mata, e as medidas para evitá-la são simples”, finaliza o coordenador de Promoção e Proteção à Saúde da Sesa.
Diário do Nordeste
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