e uma palavra melhor... em seu leito de morte ele está nos ensinando lições. Lições de paciência, amor, tolerância.
Morreu hoje, aos 95 anos, em Pretória, o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela. Ontem, sua filha Makaziwe afirmou, em uma entrevista à emissora local SABC, que o líder estava em seu leito de morte.
– Na falta de uma palavra melhor... em seu leito de morte ele está nos ensinando lições. Lições de paciência, amor, tolerância.
Mandela era um herói acima de facções, acima de fronteiras e acima de religiões. O orador que discursava para todos os tons e representava todas as cores, necessariamente juntas, deixou o mundo ao qual ensinou lições de aceitação do diferente.
O ícone da luta contra o apartheid completou 95 anos em 18 de julho, mas não resistiu aos graves problemas pulmonares decorrentes de uma tuberculose contraída na ilha de Robben Island, perto de Cidade do Cabo, onde passou 18 dos 27 anos de detenção durante o regime de segregação racial.
Com todo seu currículo repleto de superlativos, Nelson "Madiba" Mandela era o protótipo do mito. Ainda assim – ou até por isso –, chegou ao fim da vida rechaçando a imagem de "santo". Pretendia ser apenas um "homem de família", que amargou, depois de aderir fugazmente à luta armada (dedicada a sabotar o regime racista) e voltar a rejeitá-la, o isolamento na prisão. Foi o primeiro presidente negro da África do Sul marcada pelo racismo do regime segregacionista que se impunha como modelo cultural. Enfim, devotou-se à bandeira da tolerância.
Da longa prisão, tirou uma certeza, escrita para sua mulher à época, Winnie Mandela: "A cela é um lugar ideal para aprendermos a nos conhecer." Era 1º de fevereiro de 1975 quando escreveu essa carta — estava preso desde 1962. Solitário em sua prisão minúscula, aferrou-se à leitura. E, da leitura, extraiu o lema para o que restava da sua vida: "Por ser estreita a senda, eu não declino/Nem por pesada a mão que o mundo espalma/Eu sou dono e senhor de meu destino/Eu sou o comandante de minha alma." É um trecho do poema Invictus, escrito pelo britânico William Henley e tema de um filme sobre sua atuação quando usou o Rugbi para unir o país.
A máxima, de ser o comandante da própria alma, explica a vida de Mandela, especialmente depois da sua libertação, em 11 de fevereiro de 1990. Ganhou o Nobel da Paz em 1993, ao lado do último presidente do regime de apartheid, Frederik de Klerk, pelas negociações que transformaram uma ditadura racial em democracia multirracial. Presidiu a África do Sul entre 1994 e 1999, em um governo elogiado pelos ventos de pacificação, mas também criticado por não deter o avanço da aids e por se aproximar de quem antes discriminava os negros. Em 2004, anunciou que se afastava da vida pública. Depois de chegar à velhice costurando os tecidos de uma nação separada pelo ódio racial, lutou para unir o próprio clã.
A filha Zindzi, escreveu o seguinte poema em 1980, quando ele estava na prisão: Uma árvore derrubada/E os frutos se espalharam/chorei/porque havia perdido uma família/o tronco, meu pai/os galhos, seu apoio .
O filho mais velho, Thembi, morreu em 1969, aos 24 anos. E o agravante: preso, Mandela não pôde ir aos funerais. Veio o remorso por, distante, não ter acompanhado o crescimento dos filhos, sem "banhá-los, alimentá-los e contar-lhes histórias", conforme escreveu, deprimido, na prisão. E mais ele escreveu: "Minha mente e meus sentimentos estiveram demasiado agitados para eu me dar conta das tensões psicológicas que minha ausência provocou nos meus filhos." Por isso, dizia não ser "santo".
Ele tentou e conseguiu: uniu seu país, serviu de exemplo, reaproximou-se dos afetos. Na última aparição pública, na final da Copa do Mundo de Futebol em 2010, na África do Sul, a multidão celebrou o que Mandela tornou possível.
Com informações do site Zero Hora.
Com informações do site Zero Hora.
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