Derrubando o protocolo da Santa Sé, o Papa Francisco trouxe um sopro de ar fresco para esta instituição milenar com a exibição de uma simplicidade e humor que conquistaram a imprensa e a opinião pública.
"Ele é muito descontraído. Se comporta em público da mesma maneira que em privado", resume o vaticanista Marco Politi, em entrevista à AFP. Seu antecessor, Bento XVI "também era irônico e bem-humorado em privado, mas em público era muito rígido".
O contraste é gritante: enquanto Joseph Ratzinger improvisava apenas em suas brilhantes meditações teológicas e, de temperamento tímido, seguia o protocolo ao pé da letra, Jorge Bergoglio, eleito quarta-feira à noite, escolheu imediatamente se livrar dos grilhões das normas que regem as atividades papais.
Na manhã de domingo, de forma improvisada e alegre, se aproximou da multidão e conversou com os fiéis, para o desespero de seus guardas. Cumprimentou um por um depois de ter celebrado uma missa em uma pequena igreja no Vaticano.
"Ele não dá a impressão de uma autoridade hierárquica, mas sim de um simples padre", observa Marco Politi. Vestido com uma vestimenta púrpura simples, o Papa escolheu pronunciar sua homilia de domingo em pé, e não sentado em seu trono.
"Ele tem um comportamento muito natural e se mostra sempre à vontade, até mesmo em sua forma de andar e de cumprimentar", diz Marco Politi. Um andar dinâmico que o fez tropeçar na sexta-feira durante uma audiência com os cardeais, o que ajudou a torná-lo ainda mais humano.
Jorge Bergoglio decidiu "ser ele mesmo para desmistificar o ofício papal e apresentar o Papa como um bispo entre seus contemporâneos". Desta maneira, lembra o grande comunicador João Paulo II, mas sobretudo o Papa do Concílio Vaticano II, o Papa João XXIII, chamado na Itália de "O papa bom".
Em seus discursos públicos, o Papa Francisco, de 76 anos, não hesita em deixar escapar algumas piadas, mostrando cumplicidade com o público.
Durante seu primeiro Ângelus na Praça São Pedro no domingo, diante de uma multidão de 150.000 fiéis a quem mencionou o livro de um de seus amigos cardeais e "grande teólogo", disse em tom de brincadeira: "Não pensem que eu estou fazendo publicidade para os livros dos meus cardeais!"
Uma atitude que se encaixa perfeitamente com a imagem que ele já tinha antes de chegar ao trono de Pedro.
"Eu vi o Jorge Bergoglio de sempre, a mesma simplicidade, a mesma tranquilidade, não foi de todo solene", declarou à AFP Sergio Rubin, jornalista do jornal argentino Clarin e co-autor de uma biografia de Jorge Mario Bergoglio, quando ele ainda era cardeal ("El Jesuita").
Estas atitudes não parecem desagradar seus "irmãos cardeais", como o cardeal brasileiro Odilo Scherer:"O Papa Francisco é um jesuíta e surpreendeu o mundo com a sua simplicidade franciscana. Deus o abençoe, ilumine e fortaleça em sua missão!", escreveu em sua conta no Twitter.
Mas Marco Politi adverte que "provavelmente os mais conservadores da Igreja poderão considerar este comportamento como perigoso".
Estes mesmos conservadores provavelmente não apreciaram o fato de durante sua reunião de sábado com milhares de jornalistas ter "enviado uma bênção (para o público), mas abstendo-se de fazer o sinal da cruz, em respeito à liberdade de consciência de todos", ressalta o vaticanista.
Para além das "piadinhas, (que) são detalhes", Marco Politi prefere se concentrar em "sua sinceridade quando ele conta como viveu o conclave, o que é muito bonito".
"Durante a eleição, eu estava ao lado do arcebispo emérito de São Paulo Cláudio Hummes, um grande amigo (...) Quando os votos atingiram dois terços (o limite para ser eleito), ele me abraçou, beijou e me disse: 'não esqueça os pobres'". "Imediatamente eu pensei em São Francisco de Assis", contou o Papa com uma sinceridade surpreendente.
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