sábado, 12 de maio de 2012


A seca que encarece o feijão está fazendo o mesmo com o queijo. Sem pasto e com fome, as vacas leiteiras estão produzindo menos leite e comprometendo a produção das queijarias no Ceará. As pequenas fábricas foram as primeiras a sentir o reflexo da queda na produção leiteira. Tem produtor registrando queda de 48%. Comerciantes já deram aumento de 20% ao produto. Está acontecendo no Vale do Jaguaribe, o mais tradicional polo leiteiro e queijeiro do Ceará.

As queijarias industriais continuam com o fluxo normal, mas já temem que, continuando a situação, logo no mês que vem haverá uma redução na oferta e possível oscilação de preço.

"Será que vão abrir algum financiamento ou ajuda de custo pra gente?", indagou a produtora de leite Socorro Diógenes. Ela lamenta que as vacas estejam dando menos leite e o dinheiro é pouco para comprar a ração. Para piorar, até o comércio de alimentos está ofertando menos resíduos leguminosas usados para alimentar o gado leiteiro.

A lanchonete de Mazé Diógenes, irmã da dona Socorro, fica no mercado público de Limoeiro do Norte e é conhecido pelos saborosos queijos coalhos produzidos de forma artesanal e comercializados pela família. Mazé ainda vende o tradicional baião-de-dois com queijo. Mas está mais caro produzir esse derivado do leite. Em época de vagas, literalmente, magras, a produção de leite é menor, também reduzida a fabricação de queijo e, para minimizar perdas, o jeito encontrado foi elevar o preço. O kg subiu de R$ 7,00 para R$ 10,00. "Mas aqui no centro mesmo é possível encontrar de R$ 12,00", explica dona Mazé. Isso representa um aumento de 71%. A irmã, Socorro Diógenes, possui 30 vacas em seu curral, mas a subnutrição afetou a produção leiteira, que neste ano caiu de 300 para aproximadamente 100 litros de leite por dia.

"Aqui eu não mudei ainda o preço, mas a situação continuando assim vai ser preciso aumentar", afirma Francisco Neto, dono de queijaria em Jaguaribe, Município mais tradicional da Região na produção do derivado. Mas ele já compra leite mais caro. De forma associativista, Neto e outros produtores compram diariamente o leite de diversas fazendas da região. Mas a redução na oferta já é tão sentida que ele diminuiu de 220kg para 120kg de queijo por dia.

Os grandes e médios produtores estão numa situação menos dramática em relação à estiagem no Ceará. Porque pequeno compra de pequeno. Mas fabricantes de queijo industrial geralmente tem leite fornecido de grandes fazendas, que apesar da seca ainda garantem a nutrição das vacas. Mas o aumento no consumo de ração uma hora será embutido no litro do leite. "Mas, por enquanto, ainda não mudou aqui. Continuamos produzindo a mesma quantidade de queijo para atender à demanda", afirma a empresária Marta Rochelle, de Limoeiro do Norte. Vende o seu queijo industrial (diferencia-se do artesanal por usar leite pasteurizado) para Fortaleza e seis cidades do Interior. Utiliza quatro mil litros de leite por dia. A estiagem tem afetado menos o gado leiteiro que vive em áreas próximas aos perímetros irrigados. Alia garantia do recurso hídrico ainda tem ajudado no pasto ainda verde, como em áreas no entorno do perímetro-irrigado Morada Nova e o Tabuleiros de Russas, entre Limoeiro, Russas e Morada Nova.

Estiagem

Estima-se em 500 unidades de produção de leite no Estado. Cerca de 52% do setor agroindustrial no Brasil produzem queijo e laticínios, conforme o Ministério do Desenvolvimento Agrário. No ano de 2010, os 100 maiores produtores de leite no Ceará respondiam por 70 milhões de litros no ano. Os dados são de pesquisa realizada pela Leite & Negócios Consultoria.

Dos 18 agropolos de produção leiteira no Ceará, a maioria está concentrada no Sertão Central, no Centro-Sul e no Vale do Jaguaribe.

A cada dia aumenta o número de Municípios que pedem ao Governo do Estado homologação do decreto de situação de emergência por causa da seca. As Cidades cearenses já estão aptas a receber os recursos do Garantia Safra e do Bolsa Estiagem. Mas os laudos de perda de safra devem ser enviados pelas Prefeituras municipais. O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) faz o levantamento dos agricultores que têm direito a receber os benefícios.
Com informação do Diário do Nordeste.
Fotos  Valmir

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