A CIDADE EM FRAGMENTOS(OU AINDA O PARADOXO DO ELEFANTE BRANCO)
Imagem do Memorial Antônio Conselheiro, em Quixeramobim: obra iniciada em 1997 e até hoje inacabada.
“Não cantes tua cidade, deixa-a em paz” (Carlos Drummond de Andrade)
No meio da tarde, eu me perco.
Já não sou mais o mesmo, e saio à procura da poesia.
Sempre encontro alguma palavra além de mim, muitas vezes escrita numa placa – “Pare!”. Não me autorizo olhar e não ler. As coisas são corruptíveis. As pessoas mudam... De lugar. Os prédios e as placas é que não mudam, são idéias fixas. Permanecem (Corruptíveis?). A verdade é que minha cabeça muda mais que o meu corpo. A mudança é a lei da vida. Se isso não é poesia, eu não sou nem gente.
Ninguém sabe nada de si. Só a cidade é que se revela gigante e tão pequena. Dobrando a esquina o cenário é pós-apocalíptico. Paradoxal - A falta de memória alimenta um Elefante Branco que come lixo - eu passo quase todo dia em frente e nem vejo. Uns passarinhos pousam na fiação elétrica, não os ouço cantar, pois muitos homens vestidos de laranja estão trabalhando, quebrando e construindo a cidade com uma máquina barulhenta.
A cidade é pulsação, universo-particular, célula-cosmo. Lugar sem lei, vereda que dá em canto nenhum. O mar de gente banha a rua que na madrugada era deserta. Continuo perdido no meio da tarde, entre o preto e o branco, o cinza-mudo é que colore a paisagem. O Elefante branco é só silêncio. Um silêncio que incomoda. Um Elefante branco incomoda muita gente? Acho que não. Finjo que ele não está lá.
Encontrei-me novamente.
Bruno Paulino é Graduando em letras pela Feclesc/UECE. Cordenador do Projeto Papo Cultural promovido pela ONG IPHANAQ e autor do livro "Lá nas Marinheiras e outras crônicas". Escreve aos domingos como colaborador no Blog osertaoenoticia.com na categoria O SERTÃOEM PROSA.
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